«aquela magia da música que vem do éter, é um hábito que se está extinguir (…) a rádio enquanto escuta caseira é um hábito que faliu e que nos fugiu, e não há maneira de voltar». António Sérgio in "Suplemento DN" de 08 de Julho de 2005

quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Hipótese de revisão da Lei da Rádio

A Lei da Rádio portuguesa não serve, nem nunca serviu, os interesses de operadores e ouvintes. O meio radiofónico português necessita de um estudo profundo e sério, que permita adequar as particularidades da radiodifusão nacional aos novos desafios tecnológicos e aos interesses dos ouvintes.
A hipótese de a actual Lei da Rádio poder vir a ser revista foi levantada ontem por Augusto Santos Silva, ministro dos Assuntos Parlamentares, nas comemorações do Dia Nacional da Imprensa.
O Correio da Manhã traz uma pequena notícia sobre este assunto, onde se lê que «o ministro disse que “o Governo está aberto a sugestões”, embora não descortine a necessidade de uma revisão. “Estou apenas a lançar uma hipótese”, diz Santos Silva».
Convém que deixe de ser uma hipótese e passe, rapidamente, a ser um facto.

sábado, 25 de novembro de 2006

RCP: Espero para ouvir

Quase todos os jornais nacionais falaram dos 75 anos do Rádio Clube Português (RCP). "Jornal de Notícias", "Diário de Notícias", "Público", "Jornal de Negócios", "Diário Económico", "Correio da Manhã" e "24 Horas" (não tem sítio na Internet), apresentaram reportagens sobre o RCP, assim como os meios electrónicos Diário Digital, Agência Financeira e Meios & Publicidade (registo necessário). De uma forma ou de outra evocaram uma estação que desapareceu em 1975 (ver texto de 25 de Outubro). Muito se escreveu, também, sobre o futuro da Rádio Clube (a tal emissora que diz que é o RCP). Tudo muito baseado na conferência de imprensa dada pelo seu director, Luís Osório (ver comunicado de imprensa)
Olhando para o futuro, o Rádio Clube promete 20 a 25 convidados no programa da manhã (07h – 10h) e cinco horas de emissões próprias (entre as 12h e as 17h) no Porto, Vila Real, Braga, Coimbra e Aveiro. O número de convidados parece-me francamente exagerado, porque três horas são um tempo limitado para ouvir tanta gente. Presumo que a Rádio Clube convide especialistas nas diversas matérias, porque se forem cidadãos comuns e anónimos a falarem sobre os assuntos do dia, então até se arranjam 50 ou mais. Quanto às cinco horas de emissão local, não serão transmitidas através da rede nacional do Rádio Clube, não chegando as emissões de Vila Real ou Porto, por exemplo, nem a Lisboa, nem às outras terras fora do alcance do emissor local. Já agora, por curiosidade, a Lei da Rádio obriga a 8 horas de emissão local e não apenas 5.
Parafraseando Luís Osório (está escrito em quase todos os jornais), o Rádio Clube vai ser uma estação generalista de informação, que pretende discutir a liderança das audiências em todos os horários sem, no entanto, fazer concorrência à TSF, Renascença ou Antena 1. Mas afinal em que é que ficamos? Se vai ser uma rádio com informação, então vai fazer concorrências às outras três estações de certeza, se vai ser generalista vai ser a mesma coisa. Isto é mesmo conversa de treinador de futebol com "o lugar a arder": “a outra equipa é favorita, mas vamos entrar para ganhar”. E no “fim do jogo” diz: “perdemos, mas fomos melhores em campo”. Somos um país de “rodriguinhos”, nunca vamos directos ao assunto, nunca tomamos posições de confronto (vulgo ”agarrar o touro pelos cornos”), nem assuminos responsabilidades e depois, quando as coisas correm mal, queixamo-nos de tudo e de todos, culpabilizando os imponderáveis e “sacudindo a água do capote”. Se as audiências não forem as esperadas, quero ouvir as desculpas esfarrapadas que serão dadas. Seria muito mais interessante que o director do Rádio Clube assumisse que está no mercado para vencer, retirando ouvintes (para subir nas audiências só pode ser assim) às outras estações.
Em Janeiro de 2007 começa o novo Rádio Clube. Desejo-lhe muitas felicidades e que seja realmente uma emissora diferente, mas espero para ouvir porque tenho as minhas dúvidas.

P.S. 1 – Luís Osório afirmou que o jornalista do programa da manhã "Será uma figura de referência no jornalismo", após uma primeira análise, o personagem que melhor encaixa neste perfil é Sena Santos. Será ele?
Act. 28/11 - Afinal não é Sena Santos.

P.S. 2 - A propósito dos 75 anos do RCP, Rogério Santos escreveu um texto interessante que resume a história daquela estação.

P.S. 3 – Além do Indústrias Culturais, os blogues NetFM, Rádio e Jornalismo, A Minha Rádio e Blogouve-se também têm textos sobre o assunto.

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

A RUC precisa de técnicos e locutores

Alguém da RUC (Rádio Universidade de Coimbra) deixou uma mensagem no texto anterior: «A Rádio Universidade de Coimbra precisa de novos locutores e novos técnicos de som - inscreve-te nos cursos de formação prévia!
CURSO DE LOCUÇÃO E REALIZAÇÃO
Dirigido essencialmente a amantes de música, o curso de "programação" vai preparar as novas vozes que darão conteúdos a futuros programas da RUC. Objectivo: experimentação em rádio. Inscrições até 24 de Novembro.
CURSO DE TÉCNICA DE RADIODIFUSÃO
O técnico RUC solda cabos, faz spots e jingles, prepara noticiários, escala antenas, domina potenciómetros, discorre sobre impedância, inspecciona emissores, equaliza graves e agudos, dá som a convívios, ouve boa música e cria momentos mágicos. A força da técnica e, muitas vezes, a técnica da força - inscreve-te até 17 de Novembro.
INSCRIÇÕES: Secretaria da RUC no edifício A.A.C. (junto à Praça da República), no horário 11-13h e 14-17h.
INFORMAÇÃO SOBRE OS CURSOS RUC: http://www.ruc.pt/cursos.php».
Sou um fã da RUC. Pelo menos lá ainda se respira rádio.

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

A digitalização nos media portugueses

O blogue Indústrias Culturais traz uma interessante análise ao relatório preliminar “A Digitalização no Sector da Comunicação”. Esta investigação envolve vários países europeus e, em Portugal, é coordenada por Fernando Cascais (Cenjor) e José Luiz Fernandes (SJ).
O impacto do digital na rádio já se faz sentir há mais de uma década. Diz o relatório que «A digitalização traria maior poder aos jornalistas, alargando as suas funções. (...)No caso da rádio, os jornalistas passaram a editar sons, através de software instalado». Claro que os jornalistas passaram a editar sons, substituindo os operadores de som, mas a deficiência de formação na área do áudio e da informática trouxe outros problemas, como sons mal cortados ou lentidão na edição, por desconhecimento de funcionalidades de software, entre outras coisas.
A digitalização era um caminho que os media teriam de percorrer mais cedo ou mais tarde. A parte mais positiva da digitalização da rádio foi a redução de custos com equipamento técnico: o material áudio tornou-se mais barato, ao mesmo tempo que era mais fiável, além da qualidade sonora ter melhorado significativamente. O negativo foi a já referida redução de pessoal. Por exemplo, na RTP (televisão) «a digitalização terá sido responsável pela redução de quadros, de 2800 para 2000». Houve emissoras que pura e simplesmente reduziram o pessoal operacional a zero - o computador faz toda a emissão sem custos.
O digital trouxe novos desafios e novas oportunidades, é um facto. Mas, para aproveitar todas as suas potencialidades, há que investir na formação profissional contínua dos activos, conforme refere o relatório. Infelizmente são poucas (se calhar até nenhuma) as empresas de comunicação social que apostam na formação, mesmo que esta seja financiada pelo IQF.

terça-feira, 21 de novembro de 2006

Os (futuros) estatutos da Rádio e televisão de Portugal

Está disponível no Portal do Governo um ficheiro pdf com a Proposta de Lei que reestrutura a concessionária dos serviços público de rádio e de televisão. Esta proposta é válida para a rádio e para a televisão, e está em discussão pública até 15 de Dezembro.

domingo, 19 de novembro de 2006

A comunicação social no Porto

Há um texto interessante no blogue Travessias Digitais sobre a Comunicação Social no Porto. É um facto que na imprensa a área metropolitana do porto tem vindo a ficar cada vez mais afastada das páginas dos principais jornais nacionais. O Porto (cidade) já não tem rádios locais controladas por empresas com sede no Porto: a Rádio Festival e a Rádio Nova – as únicas que têm estúdios e emissão 24 horas por dia do Porto - são controladas pela empresa Música no Coração, que tem sede em Lisboa. As restantes são simples retransmissores de estações da capital.
No entanto, foi referenciado no Travessias Digitais, num comentário de João Paulo Meneses, um caso importante na radiodifusão nortenha: Antena 1, Rádio Renascença e TSF-Rádio Notícias têm períodos de emissão em que os noticiários são editados desde os estúdios da Invicta.
Estas três emissoras são as que mais importância dão aos blocos noticiosos. O Rádio Cube (RCP) vai reformatar o seu modelo de emissão, passando a ser uma estação de notícias, do género de TSF. Falta saber se haverá noticiários editados desde os estúdios do Porto do RCP.

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Um bom espaço radiofónico

Não é só nas “grandes” emissoras que existem bons programas de rádio. As estações locais são também capazes de produzir programas com qualidade. Um destes programas é o "Banco de Ensaio", um espaço integrado no programa “Atlântico”, de Bruno Gonçalves Pereira, da responsabilidade de Luís Silva do Ó, e que passa na Antena Miróbriga (Santiago do Cacém).
"Banco de Ensaio" é um espaço radiofónico que afirma que «os novos discos do mundo, muitos deles desconhecidos em Portugal, provam que se continuam a produzir grandes canções que vale a pena descobrir e que a rádio continua a cumprir a sua função de grande divulgador musical».

domingo, 12 de novembro de 2006

Rádios Regionais

As emissoras radiofónicas em Frequência Modulada, em Portugal, têm alvará de cobertura local, regional e nacional. No entanto há diversas emissoras locais que usam o termo “regional”. Por exemplo, a Rádio Regional de Arouca e a Rádio Regional Sanjoanense são rádios locais que usam o termo “regional” na sua designação. É uma realidade que servem uma região mais vasta do que a localidade onde tem sede.
Recentemente apareceu uma nova emissora regional: a Rádio Regional Centro, uma associação de três emissoras locais. Uma curiosidade: a Rádio Regional Centro tem como lema «Música 100% em português». Este é um contraste enorme com a Rádio Regional Norte que praticamente só passa música de origem estrangeira - denominam-se como a rádio mais jovem. Esta emissora, pelos vistos, deixou de estar online, pois a ligação http://www.radioregional.com.pt/ já não funciona.
Curiosamente, aos olhos da lei apenas duas emissoras são regionais: o Rádio Clube (regional Sul), cujas frequências foram inicialmente da Correio da Manhã Rádio, e a TSF-Rádio Notícias (regional Norte), que ocupa as frequências originalmente atribuídas à Rádio Press.
Seria interessante que o governo revisse a distribuição das emissoras: locais, com menos potência; regionais (podiam ser de cobertura de áreas metropolitanas, distritos, etc.), pois a área Norte / Sul não serve para nada, nem faz sentido, pois, com a aquisição de emissoras locais por parte das detentoras do alvará regional, já não existem rádios regionais, mas sim nacionais; e, claro, nacionais, com cobertura de Portugal continental e ilhas.

terça-feira, 7 de novembro de 2006

A (ridícula) revisão salarial do meio radiofónico

Depois de mais de três anos a escrever sobre a rádio portuguesa, tiro uma conclusão: temos uma rádio com altos e baixos, mas que tende cada vez mais, infelizmente, para a mediocridade. Alguns factores contribuem para que a rádio não tenha um nível elevado e um deles é o nível de especialização de quem nelas trabalha, o outro é a fraca retribuição que os trabalhadores das emissoras portuguesas auferem. Um está relacionado com o outro.
Foi assinada, recentemente, a revisão salarial entre a Associação Portuguesa de Radiodifusão (APR) – que representa uma grande parte das emissoras portuguesas, com excepção da RDP e da RR – e os sindicatos do sector. Segundo a nova tabela, o valor mínimo é € 388, 21 e o máximo é € 1203,45. O valor mínimo não corresponde à realidade da Rádio Comercial, do Rádio Clube e da TSF, mas quase de certeza que há muitas emissoras locais que o praticam. Num meio que deve ter um elevado nível de especialização estes valores são ridículos.
Há quem advogue que só seja jornalista quem tiver um curso superior e depois a APR estabelece que uma estação só esteja obrigada a pagar, a um licenciado, € 388, 21. Qualquer outra profissão que apenas requeira que um trabalhador saiba ler e escrever paga mais.
Por muita vontade que um jornalista (animador ou técnico) tenha de trabalhar em rádio, acaba por ir para outro local onde lhe paguem mais. Um animador é a “imagem da estação” e devia ser bem pago por isso, pois é uma parte importante da estação e será uma das razões que os anunciantes decidem fazer publicidade na estação, mas um bom animador (locutor, apresentador, comunicador, chamem-lhe o que quiserem) acaba por desistir do meio e ir trabalhar para outra profissão, porque o salário pago na rádio não dá para viver. Um operador de som terá sempre de ser especializado, já que trabalhar como técnico implica conhecimentos de som, de áudio, de informática, electrónica e, dependendo da emissora, de jornalismo, pois a qualidade sonora, e não só, passa por ele. Paga-se mal, portanto emprega-se só "quem dê um jeito" (se percebe do assunto, ou não, não interessa), pois quem sabe do ofício não pode viver dele. E quem paga é a qualidade da emissão.
Com estes salários a rádio portuguesa não atrai os melhores e, portanto, tornar-se-á medíocre e imprestável, pois não formará nem informará – como é o dever dos órgãos de comunicação social - e tornar-se-á, como algumas emissoras já são, um reles toca discos.
P.S. - É interessante o texto "O ensino do jornalismo visto pelos estudantes" e os comentários, no blogue "Rádio e Jornalismo".

sábado, 4 de novembro de 2006

Sena Santos regressa... em Podcast

A notícia de que Sena Santos, ex- jornalista da Antena 1, se tornou num podcaster vem hoje no jornal “Público” ( o blogue “Chão de Papel” já tinha escrito, ontem, sobre o facto), satisfazendo, em parte, os apelos que se iam fazendo ouvir, para que ele regressasse à rádio.
Sena Santos pode, então, ser escutado em http://senasantos.podcasts.sapo.pt/.

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

A rádio ganhou (alguns) ouvintes

O Bareme Rádio da Marktest disponibilizou as audiências radiofónicas do terceiro trimestre de 2006, mostrando que a rádio recuperou 13 mil ouvintes em relação ao mesmo período de 2005. Mas ainda está muito longe de recuperar os 307 mil que perdeu no primeiro trimestre de 2006. No entanto, o terceiro trimestre (Julho, Agosto e Setembro) é sempre um período de reduzido consumo radiofónico, já que este é o período de férias para a maioria dos portugueses.
De destacar apenas que a Rádio Renascença (RR) subiu em relação ao período homólogo de 2005, invertendo assim a tendência dos últimos tempos, mas esta subida não tem uma relação directa com a remodelação que a RR sofreu há pouco tempo. O Rádio Clube (RCP) – que reformulará o seu formato em Novembro - continua em queda com menos 25% de Audiência Acumulada de Véspera (AAV) do que no mesmo período do ano transacto.
Ficam aqui as AAV do terceiro trimestre de 2006:
RFM - 13,7%
Rádio Renascença - 10,1%
Rádio Comercial - 6,9%
Cidade FM - 4,8%
Antena 1 - 4,7%
TSF - 4,4%
Rádio Clube - 2,4%
Mega FM – 1,5%
Antena 2 – 0,7%

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Nos primórdios da radiofonia

Nas primeiras décadas do século XX, a radiofonia era alvo de investigação (na área do áudio, da propagação electromagnética, etc.) e surgiram alguns aparelhos para fazer experiências que resultassem numa melhoria do novo medium. Alguns instrumentos caíram no esquecimento, porque não tiveram nenhuma utilidade para além das experiências radiofónicas, mas outros foram convertidos a outras funções com sucesso.
Escrevi sobre dois aparelhos interessantes, no meu outro blogue, que tiveram origem nas experiências com a rádio. O Trautonium – um aparelho usado para fazer experiências áudio – e o Theremin - cuja primeira utilização era a de estudar as interferências na recepção electromagnética (ondas de rádio). São dois instrumentos muito interessantes.

quarta-feira, 1 de novembro de 2006

Uma boa ideia

O Francisco Mateus – animador na TSFcoloca à disposição dos ouvintes a série de programas "Como no Cinema", no blogue comonocinema.blogspot.com. Estes programas fora realizados pelo Francisco Mateus e foram emitidos na TSF em 2000 e em 2001.
Os programas ficarão à disposição em podcast, para simples audição ou para descarga para o computador.
É uma boa ideia, portanto quem tem programas de outros tempos pode disponibiliza-los também. É uma forma de perpetuar e partilhar a memória da rádio.