«aquela magia da música que vem do éter, é um hábito que se está extinguir (…) a rádio enquanto escuta caseira é um hábito que faliu e que nos fugiu, e não há maneira de voltar». António Sérgio in "Suplemento DN" de 08 de Julho de 2005

sexta-feira, 28 de abril de 2006

Ipsis litteris

Nuno Galopim na revista "6ª", distribuída com o "Diário de Notícias", sobre o regresso do programa "A Hora do Lobo" à Rádio Comercial: «Numa estação minada por uma play list de arrojo zero, característica transversal a quase todo o FM generalista, A Hora do Lobo é lança no... éter. Uma aposta pessoal do recentemente nomeado director, que revela, acima de tudo, que a rádio soa mais a rádio quando é feita por quem passou pelos microfones e sabe do que fala.
Os encorajadores resultados recentes de estações com perfil musical diferente, como a Radar, a Oxigénio e a Marginal, e a queda geral do meio rádio, mostram que começa a haver quem esteja farto de ouvir mais do mesmo em todo o espectro FM. Deseja-se diferença e personalidade. Deseja-se música que nos fale, e não música que nos cale. Deseja-se uma rádio que nos faça querer ouvir o que tem para dizer e tocar, não a que serve de wallpaper e acaba inconsequente e mera paisagem de fundo.
(...) A rádio do futuro é a que souber convidar a escutar. A que nos promover e der mais que um ruído de fundo. Esse, de resto, já nos acompanha todos os dias...»

quinta-feira, 27 de abril de 2006

Encontro Nacional da ARIC

Nos dias 29 e 30 de Abril vai ter lugar, em Vila Nova de Santo André, Santiago do Cacém, mais um encontro nacional das emissoras associadas na ARIC – Associação de Rádios de Inspiração Cristã.
Este encontro será o primeiro fora das instalações da Associação, em Fátima, e surge por ocasião das comemorações do décimo quinto aniversário da ARIC.
Do programa de trabalhos do encontro estão previstas várias intervenções e é de destacar a inauguração de uma exposição de material de rádio de outros tempos.
Este ano em paralelo com o 15.º aniversário da ARIC, será assinalado o 20.º aniversário da

terça-feira, 25 de abril de 2006

A rádio e o 25 de Abril de 1974

Houve um tempo em que as emissoras radiofónicas portuguesas eram poucas. Havia muita escuta de rádio em Amplitude Modulada, já que poucas estações emitiam em Frequência Modulada. Escutava-se, principalmente, em Onda Média. Alguns escutavam emissoras estrangeiras em Onda Curta, mas com cuidado... As mensagens que o éter trazia podiam ser consideradas subversivas para a “liberdade" que os portugueses usufruíam na altura. Afinal havia um estado que cuidava do bem-estar dos portugueses. Dizia-nos «que filmes ou peças teatrais podia ver, ou não, que revistas e jornais podia ler, ou não, que países podia visitar, ou não».
Ouvir rádio podia ser crime. Principalmente se fosse alguma emissora da Europa de Leste, ou a Rádio Liberdade, que emitia desde a Argélia. A rádio vingou-se na madrugada do dia 25 de Abril de 1974, com a revolução dos cravos.
A colaboração entre revoltosos e a rádio começa muito antes do dia 25 de Abril de 1974. Os contactos são feitos entre militares e jornalistas de várias emissoras, preparando-se tudo para que a revolução resultasse. 5 minutos antes das 23h, do dia 24 de Abril de 1974, na rádio Alfabeta dos Emissores Associados de Lisboa, o locutor de serviço - João Paulo Dinis - "lançou" a música "E depois do adeus" de Paulo de Carvalho. Era o sinal para as tropas avançarem.
Na Rádio Renascença a gravação do alinhamento, que viria a ser o sinal para o desencadear das operações, foi feita na tarde do dia 24 de Abril, por Leite de Vasconcelos, para ser emitida no Programa «Limite», que era realizado em directo, mas algumas partes eram previamente gravadas. Era numa dessas gravações que estava a «senha» - a primeira quadra da música «Grândola, Vila Morena», de Zeca Afonso. Passavam vinte minutos da meia-noite, quando a gravação foi difundida:

Grândola vila morena
terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti ó cidade


Esta segunda senha confirmou a primeira. A partir daqui todo o movimento era irreversível. O Rádio Clube Português é transformado no posto de comando do «Movimento das Forças Armadas», por este motivo a emissora fica conhecida como a "Emissora da Liberdade".
Aos Microfones do Rádio Clube Português, Joaquim Furtado lê o primeiro comunicado às 04h26:

«Aqui posto de comando do Movimento das Forças Armadas.
As Forças Armadas portuguesas apelam para todos os habitantes da cidade de Lisboa no sentido de recolherem a suas casas, nas quais se devem conservar com a máxima calma.
Esperando sinceramente que a gravidade da hora que vivemos não seja tristemente assinalada por qualquer acidente pessoal, para o que apelamos ao bom senso do comando das forças militares no sentido de serem evitados quaisquer confrontos com as Forças Armadas. Tal confronto, além de desnecessário, só poderá conduzir a sérios prejuízos individuais, que enlutariam e criariam divisões entre portugueses, o que há que evitar a todo o custo.
Não obstante a expressa preocupação de não fazer correr a mínima gota de sangue de qualquer português, apelamos para o espírito cívico e profissional da classe médica, esperando a sua ocorrência aos hospitais, a fim de prestar a sua eventual colaboração, o que se deseja sinceramente desnecessária.
»

Mais arquivos áudio sobre o 25 de Abril de 1974 podem ser escutados no sítio Clássicos da Rádio.
Bibliografia sobre a rádio e o 25 de Abril:
- Maia, Matos: Aqui Emissora da Liberdade. 1.ª edição: Rádio Clube Português, 1975 (esgotada). 2.ª edição: Editorial Caminho,Lisboa, 1999.
- Caldas, A. Pereira: Para a história da Rádio Renascença (1974-1975) Um barómetro da revolução. Radio Renascença / Grifo – Editores e Livreiros, Ldª. Lisboa, 1999.
- Ribeiro, Nelson: A Rádio Renascença e o 25 de Abril. Universidade Católica Editora. Lisboa, 2002.

quinta-feira, 20 de abril de 2006

A rádio portuguesa perdeu 307 000 ouvintes

Segundo o Bareme Rádio relativo ao 1.º trimestre 2006, a rádio portuguesa perdeu 307 mil ouvintes. De uma Audiência Acumulada de Véspera (AAV) de 60,6% no primeiro trimestre de 2005 (o equivalente a uma média diária de 5 milhões de ouvintes) a escuta radiofónica caiu para 4,7 milhões. Ou seja, na prática a rádio portuguesa perdeu 6% dos ouvintes.
Deve-se a quê, esta quebra de ouvintes? Provavelmente à formatação radiofónica portuguesa, que aposta mais em programas tipo juke-box (ou gira-discos) e menos em fazer companhia, apresentando programas diversificados, com conteúdos capazes de cativar os ouvintes. Já várias vezes alertei, neste blogue, que entre ouvir uma rádio que só passa músicas e o meu leitor de CDs, prefiro este último - ao menos ouço o que quero, quando quero e como quero. Pelos vistos existem mais 307 000 outras pessoas a pensarem da mesma forma.
Da queda salvam-se cinco estações: Rádio Comercial, que obteve 7,8% de AAV; Antena 1 conseguiu chegar aos 5,0% de AAV; Rádio Clube (ex - R. C. Português), que atingiu 3,2% de AAV; a Antena 3 subiu para 3,6% de AAV; e a Antena 2, que subiu aos 0,7 % de AAV. Estas estações têm vindo a alterar a sua filosofia: a Comercial passou a ter mais programas de autor ("A Hora do Lobo" e "80 à Hora", por exemplo). O Rádio Clube passou a ter programas com entrevistas, mais informação, comentadores da actualidade, etc. As emissoras do estado - Antena 1, Antena 2 e Antena 3 - também têm vindo a mudar o rumo que as orientava. As restantes estações estão a perder ouvintes.
Embora continue a ser a emissora mais escutada, a RFM ficou-se pelos 12,4% de AAV, em segundo lugar (ainda) está colocada a Rádio Renascença, mas só com 9,8% de AAV. A já referida Rádio Comercial, é a terceira estação mais escutada, seguida da Antena 1 que está à frente da TSF, que só obteve 4,7% de AAV ex-aequo* em igualdade com a Cidade FM. Logo abaixo vem a também já referida Antena 3 e depois a Mega FM com 1,4% de AAV. Em penúltimo lugar encontra-se a Best Rock FM, que se manteve nos 0,9% de AAV e, finalmente, aparece a Antena 2.
Os ouvintes que não sabem quais estações escutaram são 1,4%, e as restantes emissoras, em conjunto, atingem 11,9% de AAV.
Estas audiências podem ser comparadas com as do quarto trimestre de 2005, no texto de 27 de Janeiro.

* Tinha escrito ex-aequo, mas acabei por cortar, porque esta expressão quer dizer “com igual mérito”, e eu não vejo mérito nenhum em perder ouvintes!

segunda-feira, 17 de abril de 2006

(Sempre) fecharam o Museu da Rádio

É miserável a forma como tratamos a nossa cultura. Após 14 anos aberto ao público, o Museu da Rádio fechou as portas. Segundo o jornal “Público” (acesso pago), o actual acervo será exposto em 2007 num espaço que terá metade da área actual. No entanto, não será exibido todo o espólio, por obvia falta de espaço.
Pedro Braumman, o actual director do Museu da Rádio, em declarações ao jornal "Público", diz que «há limitação de espaço, mas podemos recorrer a soluções como os suportes multimédia para mostrar peças que não podem estar à vista». Ou seja, por este raciocínio nem precisamos de Museu! Podemos por tudo online na Internet.
O edifício do Museu da Rádio - situado na Rua do Quelhas, em Lisboa, onde foram os estúdios da Emissora Nacional - é também ele de interesse histórico, mas vai ser vendido, sendo incerto o seu futuro. Onde está agora a srª. Ministra da Cultura? E o IPPAR? Para impedir uma obra útil, como o Tunel de Ceuta, foram muito rápidos (e depois viu-se o resultado: o túnel acabou por ser construído na mesma) porque havia eleições e podia-se ganhar votos (as politiquices miseráveis do costume), mas para impedir que desapareça uma parte da nossa história estão quietos e calados.
Recentemente foi demolida a casa onde morou Almeida Garrett, pelo que até acho estranho que não se tenha deitado abaixo o Mosteiro dos Jerónimos para se construir o Centro Cultural de Belém. Já agora, encerre-se o Museu Nacional de Soares dos Reis e faça-se lá um centro comercial. O Túnel de Ceuta até termina à porta.

ACT (19/04/06 - 08h00) - Faço minhas as palavras de Rogério Santos:

sexta-feira, 14 de abril de 2006

Feliz Páscoa

Aproveitando a época pascal, «o cardeal americano James Francis Stafford, o penitenciário-mor do Vaticano, desfiou terça-feira, na Basílica de S. Pedro, três novos pecados ligados às novas tecnologias: o excesso de Internet, de televisão e de jornais». O cardeal não fez referência à rádio.
Já que a rádio é o único medium que permite a acumulação, sigam, pelo menos, os conselhos do cardeal Stafford: leiam a Bíblia... enquanto escutam rádio. Boa Páscoa.

P.S. - É comum desejar-se bom natal, bom ano ou feliz aniversário, mas, curiosamente, não é muito usual desejar-se boa Páscoa - a única data que a Bíblia ordena que se celebre (o natal, por exemplo, é uma adaptação da festividade romana do nascimento do sol. Jesus Cristo terá nascido por volta de Outubro e não a 25 de Dezembro).
Para os cristãos, a Páscoa celebra a última ceia de Cristo, em 14 de Nisã do ano 33, que correspondeu, este ano, a 12 de Abril. Para o judaísmo a Páscoa tem um significado diferente, já que celebra, no mesmo dia, o fim do cativeiro dos judeus no Egipto, por volta de 1300 a.C.

quinta-feira, 13 de abril de 2006

O futuro da rádio a ela pertence

A rádio portuguesa não sabe aproveitar as oportunidades que surgem, tenta reduzir ao mínimo o elemento humano, não toma a iniciativa e espera para ver. Ou seja, não arrisca produtos novos. Porquê? Porque será que onde a rádio portuguesa vê a sua ruína, emissoras de outros países vêm uma oportunidade de negócio? Internet, telemóveis, Leitores de Áudio Digital, podcasting, blogues, emissão por satélite, emissão digital, rádio visual, etc. são ferramentas que a rádio pode, e deve, usar para continuar a ser atractiva.
A rádio já não é principal forma de divulgação musical. A internet, a televisão e a facilidade de troca de ficheiros digitais praticamente relegou para segundo plano um papel que pertencia, até há pouco tempo, à rádio. Estações que só passam música pioram o cenário – o ouvinte entre escutar música que não gosta, mesmo que seja intercalada com outra que aprecia, e escutar os seus CDs, prefere estes últimos, que só têmmúsica do seu agrado e com maior qualidade sonora. Se alguém procura a rádio é porque ela tem qualquer coisa mais... algo que faz manter o ouvinte na mesma sintonia, mesmo que o que esteja a passar no momento não seja totalmente do seu agrado. No entanto a companhia radiofónica dá-lhe prazer.
A rádio portuguesa é bastante diferente da que se pode encontrar noutros países. Uma das nossas particularidades é o peso esmagador que as emissões em Frequência Modulada (FM) têm em Portugal. Até meados da década de 1980 as alternativas dividiam-se entre as emissoras estatais em Onda Média (OM), Onda Curta (OC) e FM e a emissora católica - também ela a transmitir em OM, OC e FM. Apenas subsistiam duas estações locais independentes – uma na Guarda (Rádio Altitude) e outra no Caramulo (Rádio Clube do Centro), ambas emitiam em OM.
A segunda metade dos anos 80 trouxe as rádios piratas e uma exploração exaustiva da FM. A diversificação dava-se, então, em Frequência Modulada, porque as emissões em Amplitude Modulada (OM e OC) eram escassas e a melhor qualidade sonora também teve influência na migração dos ouvintes da AM para a FM. Perdeu-se a oportunidade de bipolarizar as emissões: FM para rádios musicais, AM para rádios de palavra. As rádios musicais poderiam, então, tornar-se especializadas em determinado género ou época. As de palavra poderiam ser especializadas em notícias, fóruns, desporto, entrevistas, etc. Aqui a culpa cabe aos sucessivos governos após o 25 de Abril de 1974 que não souberam (ou não quiseram) liberalizar verdadeiramente o mercado radiofónico.
A World Wide Web (www) já tem mais de uma década, mas só agora é que as rádios portuguesas começam a aproveitar os benefícios, com emissões online (principalmente desde que arrancou o projecto ROLI), blogues e podcasts. No entanto, ainda são escassas as rádios disponibilizam conteúdos em podcast ou mantêm blogues sobre os seus programas.
A esmagadora maioria das rádios locais não cumpre a sua função: não têm noticiários locais, os programas são pobres de conteúdo útil e muitas são meros retransmissores de estações de Lisboa.
A rádio portuguesa perde ouvintes? Perde investimento publicitário? Só se pode queixar dela mesmo. Vale a pena ler o texto do blogouve-se «A rádio, como há 30 anos!».

terça-feira, 11 de abril de 2006

Quatro anos de "Jornalismo e Comunicação"

O blogue "Jornalismo e Comunicação" vai já no quarto aniversário. Aproveitando a efeméride, houve algumas mudanças no blogue: no visual e na equipa que o compõe. A partir de agora o blogue é da responsabilidade dos investigadores do projecto "Mediascópio".
O "Jornalismo e Comunicação" é um dos meus blogues de referência e é indispensável a quem se interessa pelas Ciências da Comunicação.
Parabéns aos seus autores e um agradecimento muito grande pelo contributo que trazem à compreensão dos media.

domingo, 9 de abril de 2006

Para escutar na Rádio Comercial

Um bom programa de rádio tem de ter conteúdo, para além da música. Vão sendo raros os bons programas radiofónicos em Portugal – porque dão trabalho e porque têm uma produção que fica mais cara do que uma máquina a “debitar” música e jingles.
No entanto, ainda há quem reme contra a maré. Um desses programas é o “80 à hora” - uma viagem radiofónica à década de 1980, conduzida por Pedro Ribeiro, aos sábados às 13 horas e aos domingos às 19 horas, na Rádio Comercial: «Os anos oitenta começaram em Portugal em tom de rock. Rock e rádio conjugavam-se então com a mesma palavra: pirata. As rádios e as bandas multiplicavam-se quase ao mesmo ritmo. A década encarregar-se-ia de dizer quem sobreviveria».
Vamos ver quanto tempo o programa se mantém no ar.

Parabéns ao Íntima Fracção

«Pouco para dizer, muito para escutar, tudo para sentir» - é assim há 22 anos. O programa Íntima Fracção já ultrapassou as duas décadas de emissão - coisa rara no espaço radiofónico português.
O IF pode ser escutado na internet em mp3, em podcast ou, se estiver na região de Coimbra, na RUC (107.90 MHz) aos domingos, da 1 às 2 h.
Os meus parabéns ao Francisco Amaral.

quinta-feira, 6 de abril de 2006

Mais um livro sobre a rádio portuguesa

De todas as estações radiofónicas portuguesas, a Rádio Renascença deve ser a emissora sobre a qual mais obras se publicou. E, em finais do ano passado, mais um livro sobre a emissora católica portuguesa passou a estar disponível:
«Igreja Católica, Estado e Sociedade - O caso Rádio Renascença», da autoria de Paula Borges Santos. O livro foca, principalmente, o período 1974/75 – os anos que transformaram não só a rádio, mas toda a sociedade portuguesa.
Retirei do sítio da editora - Imprensa de Ciências Sociais - a sinopse do livro: «Durante a revolução de 1974/1975, a Igreja Católica redefiniu o seu lugar e papel na sociedade e face ao Estado. Reciprocamente foi redefinida a relação do Estado com a Igreja e a religião. Essa evolução resultou da combinação de quatro factores principais: primeiro, pelas mudanças experimentadas pela Igreja Católica durante o marcelismo; segundo, pelas estratégias das autoridades públicas e religiosas no período da transição democrática; depois, pelo pluralismo dos católicos na assunção das preferências ideológicas e partidárias em condições de concorrência eleitoral; finalmente, pelo aprofundamento do processo de secularização da sociedade portuguesa. Focando o "caso Rádio Renascença", que radicalizou no PREC a tensão politico-eclesiástica, este estudo propõe uma caracterização das novas relações entre a religião e a política».
A obra ganhou o prémio "Fundação Mário Soares".

terça-feira, 4 de abril de 2006

Radia LX 2006

É raro ver iniciativas em Portugal que promovam o meio radiofónico, pelo que é de louvar a proposta da Rádio Zero (uma estação que só tem emissões na Internet), de realizar em Portugal o primeiro encontro da Radia. Há, portanto, uma oportunidade de se ouvir responsáveis de várias emissoras europeias que têm um estilo idêntico, e que são estações que dão «voz às pessoas, aos artistas, à diferença» - uma filosofia radiofónica que está quase extinta em Portugal.
O encontro da Radia vai ter lugar em Lisboa, entre 10 e 14 de Abril, e, para além das reuniões internas, terá também conferências públicas na Fonoteca de Lisboa, projecção de filmes relacionados com a rádio na Cinemateca Portuguesa e - como é uma iniciativa académica a música tinha de marcar presença - concertos na Galeria Zé dos Bois. O programa completo pode ser visto no sítio da Rádio Zero.
A Radia é uma associação que congrega 15 emissoras europeias: ORANGE 94.0 e ORF Kunstradio, de Viena (Áustria); bootlab, de Berlim (Alemanha); InterSpace, de Sofia (Bulgária); Resonance104.4fm, de Londres (Inglaterra); Tilos Radio, de Budapeste (Hungria); Itchy Bit, de Bratislava (Eslováquia); NoD e Moks Mooste, de Praga (República Checa); Radio Campus de Bruxelas (Bélgica); d media, de Cluj (Roménia); Kanal 103, de Skopje, (Macedónia); Radio Grenouille Marselha (França); e a portuguesa Rádio Zero, de Lisboa.

sábado, 1 de abril de 2006

O futuro digital

Paula Cordeiro apresenta um texto, no blogue Net FM, sobre o futuro tecnológico da rádio. Tenho a mesma opinião – o futuro radiofónico será digital. Mas, como ela bem diz, «a revolução digital está ainda por completar».
Não há uma uniformização mundial no que diz respeito às emissões digitais. O Digital Audio Broadcasting (DAB) tem tido avanços e recuos na Europa (menos na Inglaterra, onde parece que tudo corre pelo melhor), o Digital Radio Mondiale (DRM) avança firme, mas muito lentamente, enquanto que na América o HD Radio (ex-IBOC) vai sendo implementado. O Japão, como não podia deixar de ser, tem o seu ISBD-T, que é um sistema integrado de telecomunicações (rádio, televisão, telemóvel, Internet, GPS, etc.).
A guerra do digital não está só no plano da transmissão, mas também dentro dos estúdios. O áudio digital está em constante evolução. Nos sistemas de alta definição o Super Audio Compact Disc (SACD) e o Digital Versatile Disc - Audio (DVD-Audio) tentam ganhar o lugar do CD, enquanto que nos sistemas de baixa resolução (áudio comprimido) o mp3 está em competição com o wma e com outros sistemas. Algumas emissoras usam áudio digital comprimido como mpeg 2 AAC, que tem uma qualidade sonora relativamente elevada. Tudo ainda está um pouco confuso e não se prevê para breve uma padronização de sistemas, quer de edição, quer de emissão.
A rádio continuará a adaptar-se, a explorar novas plataformas de transmissão (como a Internet, por exemplo) e, citando mais uma vez Paula Cordeiro, as emissões digitais permitirão «que todos os difusores estejam no mesmo sistema, tenham o mesmo alcance e o mesmo nível de qualidade de sinal, colocando as estações emissoras em pé de igualdade em termos técnicos. A batalha das audiências vai passar para o nível dos conteúdos, construindo rádios quase personalizadas, num esquema de especialização que irá multiplicar os canais em função da variedade de géneros musicais e do tipo de informação que se deseje ouvir».
Assim sendo, penso que o que fará a diferença na rádio será o elemento humano – o tal que tem vindo a ser afastado das emissoras portuguesas.