«aquela magia da música que vem do éter, é um hábito que se está extinguir (…) a rádio enquanto escuta caseira é um hábito que faliu e que nos fugiu, e não há maneira de voltar». António Sérgio in "Suplemento DN" de 08 de Julho de 2005

quarta-feira, 17 de agosto de 2005

Os dias da rádio... já foram?

Gosto de pensar que o melhor da rádio portuguesa ainda está para vir. Os novos media, mais que uma ameaça, são caminhos a explorar pela rádio.
Em finais dos anos setenta, inícios de oitenta, do século passado, surgiram as rádios piratas. Mais que satisfazer a vontade de muitos de "fazer rádio", elas deram um abanão no éter nacional. A RDP-Rádio Comercial, também ela surgida no início da década de 1980, conjugou a experiência do extinto Rádio Clube Português com a irreverência de novos apresentadores que faziam rádio com paixão.
Depois veio a legalização e foi o que se viu. As rádios locais passaram a copiar as grandes emissoras, algumas foram adquiridas pelos grandes grupos de comunicação social, a Rádio Comercial foi alienada pela RDP e, com o tempo, foram terminando os programas de autor, pois o importante era dar música sem parar, copiando as emissoras estrangeiras mais as suas play lists. Claro os programadores das emissoras portuguesas baseavam-se nos panoramas radiofónicos de outros países e tentavam adaptá-los a Portugal, mas não tinham em conta a nossa realidade: país pequeno, muito atrasado em relação ao resto da europa, etc. Esqueceram-se, também, que noutros países um grupo de comunicação social pode ter emissoras exclusivamente musicais – e, até, com géneros específicos – porque também possui emissoras de notícias, de talk shows, de debates, etc., podendo estas ser em Onda Média, Onda Curta, Onda Longa ou em Frequência Modulada. Só que estas emissoras dão mais trabalho e menos lucro.
Lá fora, também existem rádios locais, normalmente generalistas, que trabalham para a comunidade onde estão inseridas. Por cá já existem poucas estações assim.
As emissoras musicais são tão importantes como quaisquer outras, mas com a Internet, iPods, MDs, CDs, telemóveis 3G, etc. o futuro da rádio passa pelo elemento humano: mais palavra e menos música. Talvez assim os dias da rádio ainda estejam para vir.

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro Jorge, concordo inteiramemte consigo. Infelizmente neste país, em quase tudo, copia-se sempre para pior, e o resultado é sempre ainda mais negro que o original. De facto, só a inversão do actual sistema, pode trazer uma nova alma à radio, mas pelos indícios que temos, parece dificil.

Pedro Lacão disse...

Pois é. Eu também acho que a "nova" rádio portuguesa deve (ou devia) passar mais pela palavra. Mas admito que é muito mais fácil e menos dispendioso fazer um programa (mesmo que de autor) dedicado à música. Não é fácil ter ter assunto ou tema para todos os dias e abordá-lo de maneira cativante ou, minimamente, inteligente.

http://sempreartistaderadio.blogspot.com/