«aquela magia da música que vem do éter, é um hábito que se está extinguir (…) a rádio enquanto escuta caseira é um hábito que faliu e que nos fugiu, e não há maneira de voltar». António Sérgio in "Suplemento DN" de 08 de Julho de 2005

segunda-feira, 22 de agosto de 2005

A guerra das ondas: o jamming

O jamming * – interferência produzida com o fim de prejudicar, ou mesmo anular, determinada emissão de rádio – teve início durante a Primeira Guerra Mundial. Os alemães foram os primeiros a utilizar esta técnica para interferir com as comunicações militares via rádio entre Paris e S. Petersburgo. Nos anos 30, ainda antes da Segunda Guerra Mundial, a Áustria recorreu ao jamming para evitar que as emissões nazis chegassem aquele país. No decurso da Guerra Civil Espanhola o jamming também foi utilizado pelas partes em conflito. O jamming continuou a florescer durante a Segunda Guerra Mundial sendo bastante utilizado por alemães, ingleses, japoneses, americanos, soviéticos, italianos, etc.
O conflito mundial terminou, mas não a guerra das ondas. Durante a Guerra Fria os dois blocos recorreram ao jamming para evitar que ideias contrárias aos regimes fossem escutadas.
Nós, por cá, também tivemos a nossa quota parte. Portugal recorreu ao jamming para evitar que vozes contrárias ao Estado Novo fossem escutadas pela população. Nas décadas de 1960/70, o principal alvo era a Rádio Portugal Livre ** Rádio Voz da Liberdade, que transmitia desde a Argélia. O poeta Manuel Alegre era uma dessas vozes. Também a Rádio Portugal Livre, que transmitia desde a Roménia e afecta ao Partido Comunista Português, denunciava as atrocidades do regime fascista. Era mais uma emissora que via as suas emissões sujeitas a interferências.
As interferências electromagnéticas ainda estão na moda. A China também está a utilizar o jamming para censurar emissões de rádio estrangeiras. Os chineses têm vindo a bloquear algumas emissões em Onda Curta para aquele país. O último caso foi o da estação Sound of Hope, sediada em S. Francisco, EUA, que está sujeita ao bloqueio electrónico em território chinês, estando os chineses impossibilitados de a escutar. A “Voz do Tibete” e a “Voz da América” (VOA) também já sofreram interferências.

* O jamming também é conhecido entre nós como empastelamento.

** Corr. 16h45

6 comentários:

Anónimo disse...

esta caixa de comentários mais parece um caixote do lixo, sr. Jorge. Andamos dormir, é?
Arriaga, ouvidor.

Anónimo disse...

Aqui está um ataque de spam que merece que lhe façam jamming...

Caro Jorge Guimarães Silva, eu não queria ser desmancha-prazeres, mas tenho que corrigir mais uma afirmação sua. Quem transmitia desde a Argélia, em ondas médias, não era a Rádio Portugal Livre, mas sim a Voz da Liberdade. A portentosa voz de Manuel Alegre identificava a emissão da seguinte forma: «Esta é a Voz da Liberdade, uma voz livre do povo português».

A Rádio Portugal Livre era uma outra estação clandestina, que era afecta ao Partido Comunista Português e que transmitia em ondas curtas a partir da Roménia.

Enquanto o jamming não conseguia impedir completamente a escuta da Voz da Liberdade em Portugal Continental, ele era muito eficaz em relação à Rádio Portugal Livre, que habitualmente ficava completamente obliterada.

Em Angola, também antes do 25 de Abril e apesar do estado de guerra, não era feito jamming sobre as emissões de dois dos movimentos de libertação, a saber: Voz de Angola Combatente, do MPLA, que transmitia a partir da Zâmbia (para o Leste do território) e do Congo-Brazzaville (para o Norte de Angola), e Voz de Angola Livre, da FNLA, que transmitia a partir do Congo-Kinshasa, então chamado República do Zaire (a rádio da UNITA, chamada Vorgan ou Rádio Voz do Galo Negro, só surgiu em 1975). Tanto uma emissão como a outra eram escutadas, em ondas curtas, no interior de Angola em perfeitíssimas condições, sendo o programa do MPLA, de longe, o mais escutado dos dois. Não será muito exagerado dizer que uma grande parte dos angolanos que possuíam um receptor de ondas curtas escutava a Voz de Angola Combatente, diariamente, das 19 às 19,30 horas.

Actualmente, o jamming é praticado por alguns países, sendo um deles a China, tal como referiu. O jamming chinês pode ser facilmente identificado nas ondas curtas, pois consiste em música chinesa barulhenta, a mais barulhenta que existe...

Cuba também faz jamming, nomeadamente às emissões da Rádio Martí, provenientes dos Estados Unidos. Este jamming consiste num ruído borbulhante e pode ser ouvido, por exemplo, ao princípio da madrugada nas bandas dos 49 e 41 metros.

Um outro país que tem recorrido ao jamming é o Zimbabwe, mas não sei de que tipo é que ele é.

Cumprimentos

Fernando de Sousa Ribeiro

Anónimo disse...

Bem era preciso em algumas rádios que utilizam os emissores locais para retransmitirem a emissão lisboeta. È que de radio nada têm, pois só nos dão musica ( anglo-saxonica de preferência, a previsão do tempo e as horas, para não falar nos papagaios que lá têm.

Jorge Guimarães Silva disse...

Obrigrado ao Fernando de Sousa Ribeiro pelas contribuições que aqui tem deixado.
Quanto ao Spam, já foi todo apagado. Espero que o Ouvidor Arriaga fique mais satisfeito.

Anónimo disse...

Excelente blog este. Parabéns

jc

Casas Mosub

João Paulo Meneses disse...

Sem dúvida, sr. Jorge. Reparou que, no fundo, se tratava de empastelamento internético???