«aquela magia da música que vem do éter, é um hábito que se está extinguir (…) a rádio enquanto escuta caseira é um hábito que faliu e que nos fugiu, e não há maneira de voltar». António Sérgio in "Suplemento DN" de 08 de Julho de 2005

segunda-feira, 31 de julho de 2006

A qualidade do áudio radiofónico - I

Os receptores radiofónicos nunca foram verdadeiramente um equipamento de Alta-Fidelidade (Hi-Fi), devido à qualidade áudio permitida pelas emissões electromagnéticas analógicas.
A emissão em Frequência Modulada (FM) tem um espectro áudio de 30 Hz a 15 000 Hz. Na Amplitude Modulada (AM) a faixa de frequências ainda é mais reduzida – entre os 40 Hz e os 5000 Hz. Um termo de comparação: a voz humana corresponde a uma faixa de frequências entre os 100 Hz e os 8000 Hz. O áudio obtido numa chamada telefónica – muito usado pelos jornalistas de rádio – tem uma faixa de frequências entre os 300 Hz e os 3400 Hz. Dependendo dos componentes, um sistema Hi-Fi normalmente reproduz a faixa 20 Hz - 20000 Hz, embora haja equipamentos mais recentes que conseguem reproduzir entre os 4 Hz e os 100 000 Hz - estes equipamentos são vocacionados para a reprodução de Super Audio Compact Disc (SACD).
Na radiodifusão digital, o Digital Audio Broadcast (DAB) pode comportar emissões com uma faixa de áudio entre os 20 Hz - 20000 Hz, no entanto, dificilmente isso acontecerá, pois o bit rate teria de ser superior a 192 kbps (o CD áudio tem um bit rate de 256 kbps), o que não deixa espaço para os serviços suplementares que a radiodifusão digital permite.
Acerca da qualidade das emissões DAB em Inglaterra, os jornais ingleses “Telegraph” e “The Guardian” trouxeram, no início do ano, artigos sobre a (fraca) qualidade das emissões radiofónicas digitais inglesas.
Em relação ao Digital Radio Mondiale (DRM), a qualidade áudio é aproximada à FM, sendo um pouco inferior, mas também aqui o bit rate tem uma palavra a dizer. No sistema HD Radio o problema é o mesmo.
Estamos numa era em que a qualidade sonora dos sistemas Hi-Fi atingiram um patamar elevado com o SACD. Curiosamente, é a música em mp3 - que tem uma qualidade idêntica à das “velhinhas” cassetes analógicas - que está cada vez mais na moda. E isto muito por culpa da Internet. E como a moda é o mp3, parece que os fabricantes de CDs áudio começam a ficar desleixados com a qualidade sonora dos mesmos.
Há limitações técnicas - fruto da própria tecnologia - que nem os operadores de radiodifusão nem os ouvintes conseguem superar, mas também há algumas coisas que as emissoras podem fazer para melhorar a qualidade sonora das suas emissões. Mas isso fica para outro texto.

2 comentários:

Anónimo disse...

O DRM é para o AM, certo? Estive a ver no sítio do DRM e penso que seja necessário possuir rádios compatíveis com estas frequências, pois o meu rádio fm/am não chega aos 25000khz (exemplo de uma frequência em DRM).

Esta solução seria excelente para haver uma maior possibilidade de "oxigenação" no espectro do Fm, pois em Portugal (exemplo de Lisboa) o mesmo está cheio, e por vezes vira-se para a esquerda antena e ouve-se uma rádio; vira-se a antena para a direita e ouve-se uma outra rádio completamente diferente da primeira.

Assim, o AM era um pouco mais explorado, podendo (actualmente já é possível, mas talvez por falta de inércia das estações de rádio) as emissoras portugueses emitir em AM com um qualidade similar à do FM e para toda a Europa. Cito o exemplo da Rádio Nacional, que emite música portuguesa (e muito bem; é aquilo que falta no FM português) em 1035khz zona centro e 783khz grande Porto, poder ser transmitida com qualidade e com a presença de humanos na emissão (já farta as rádios "chouriço", ou seja, aquelas rádios que são dirigidas por um computador, tirando o emprego a quem anda a estudar jornalismo;tive de puxar a brasa à minha sardinha)e para toda a Europa.

Fico por aqui neste breve (?) comentário.

Cumprimentos ao blogueiro

Jorge Guimarães Silva disse...

O DRM é a digitalização da AM. E, sim, será necessário adquirir novos receptores.