«aquela magia da música que vem do éter, é um hábito que se está extinguir (…) a rádio enquanto escuta caseira é um hábito que faliu e que nos fugiu, e não há maneira de voltar». António Sérgio in "Suplemento DN" de 08 de Julho de 2005

quinta-feira, 13 de julho de 2006

O “Clube de Jornalistas” na 2:

Não consegui assistir à maior parte do “Clube de Jornalistas” que passou na 2:, pelo que só vi a parte final, por muita pena minha.
Moderado por João Paulo Meneses, o programa tratou do jornalismo nas rádios locais e teve como convidados Luís Bonixe, professor Universitário; António Figueiredo, director da Rádio No Ar, de Viseu; e o jornalista Nuno Castilho Matos, que trabalhou na Rádio Voz de Alenquer e está agora na TSF-Rádio Notícias. O presidente da Associação Portuguesa de Radiodifusão (APR), José Faustino, previamente gravado, teve intervenções ao longo do programa.
Segundo o sítio “Clube de Jornalistas”, «existem, de acordo com dados oficiais, 355 rádios locais em Portugal, responsáveis por cerca de 15 por cento da audiência em todo o país.
São as rádios locais que descobrem talentos em cada vila ou cidade onde as rádios nacionais não têm estúdios, são as rádios locais que fazem os relatos desportivos dos clubes mais pequenos, são as rádios locais as primeiras a chegar quando há um acidente, um incêndio ou o quando o autarca local faz umas declarações mais polémicas.
E, contudo, as rádios locais são uma espécie de parente pobre da comunicação social portuguesa: escasseiam os projectos profissionais, contorna-se muitas vezes a lei que obriga a emissão própria, a publicidade escasseia, o jornalismo sai muito caro - dizem
».
Do que consegui ver (ouvir), António Figueiredo é favorável à retransmissão de noticiários das rádios “nacionais”. Luís Bonixe e Nuno Castilho Matos não vêm vantagens nisso.
Há claros benefícios para uma rádio local retransmitir os noticiários das rádios "nacionais". Para já, porque é economicamente inviável para uma rádio local ter jornalistas ao seu serviço em Lisboa para dar conta dos acontecimentos políticos, ou outros, que interessam a toda a população portuguesa. É preferível ter mais jornalistas na redacção para acompanhar acontecimentos locais e transmitir pelo menos três noticiários (obrigatórios) de cariz local. Outra vantagem é a fidelização do auditório à frequência. O ouvinte não necessita de mudar de estação para ouvir notícias de âmbito nacional. Também não concordo com o Nuno Castilho Matos ao afirmar que as notícias de extensão nacional podiam (eram, na rádio onde trabalhou anteriormente) ser tratadas através dos “takes” da Lusa. Porque o que dá credibilidade às notícias radiofónicas é o som (vulgo R.M.) de alguém visado na peça a confirmar ou a desmentir o teor da notícia.
Outro ponto, tem a ver com o novo estatuto do jornalista, que prevê que todos os futuros jornalistas tenham uma licenciatura. O painel de convidados do “Clube de Jornalistas” foi unânime ao apoiar esta medida. José Faustino discordou.
Levo já mais de duas décadas de rádio, pelo que conheci muitos jornalistas. Nem todos os licenciados são bons, nem todos os outros são maus. Parece-me que esta medida é uma forma de arranjar emprego às centenas de licenciados em comunicação social que todos os anos saem das instituições de ensino superior. Neste campo, também houve concordância no programa quanto à deficiente formação académica dos licenciados candidatos a jornalistas. Assim sendo, ou se muda os planos curriculares dos cursos superiores de jornalismo, para que os alunos terminem os cursos com mais valias para os órgãos de comunicação social, ou então nem vale a pena mexer nesta parte do estatuto do jornalista.

4 comentários:

Anónimo disse...

O josé faustino devia explicar que tipo de rádio é que faz na sua rádio alqueva (portel). Que jornalismo? com quantos jornalistas?

Luis Bonixe disse...

Uma nota apenas: não é verdade que tenha havido no programa concordância em relação à deficiente formação académica dos futuros jornalistas. Eu não o referi até pela simples razão que não acho que seja assim.
Permita-me recorrer à minha experiência pessoal: alguns alunos depois de efectuarem estágios nalgumas rádios locais dizem que um registo magnético deve ter pelo menos 5 minutos (CINCO MINUTOS)!!!Eles, na sua formação académica, nunca ouviram tal coisa, mas os responsáveis por essas rádios poderiam dizer que os jovens nem sequer sabem fazer um RM. É um exemplo. Apenas isso, mas que denota, do meu ponto de vista, que o mais fácil é criticar a formação académica fazendo de conta que do outro lado tudo está bem.

Anónimo disse...

Pareceu-me que o Luís Bonixe evitou entrar em polémicas, mas, quando estava a ver o programa, tive vontade de ouvir mais sobre as tais deficiências de formação dos alunos. É que eu também cursei Comunicação Social e não tenho bem essa ideia...
RC

Anónimo disse...

Duas notas: Sobre os licenciados ou não..parece-me que as rádios, jornais e, sobretudo, televisões, têm bons exemplos de que os não licenciados têm qualidade. Claro está que a frequência académica é útil e deve ser o meio preferido para chegar ao mercado de trabalho, mas não me parece que deva ser o "unico" meio.
Sobre as rádios locais e a questão dos noticiários, a minha ideia é clara: As rádios locais devem focar os noticiários nas noticias "da Terra"...porque são essas noticias que não cabem em mais nenhum lado, senão nas rádios e jornais locais. As noticias de âmbito nacional e internacional relevantes devem ser lidas, mas não forçosamente com tratamento exaustivo. O ouvinte fica a saber o essencial do país e do mundo, tendo uma visão mais profunda da sua região. A mim parece-me que é assim que deve ser feito, mas admito, claro, opiniões diversas.

nota: trabalhei muitos anos numa rádio local, sempre li noticias de âmbito nacional e parece-me que o desafio que se coloca aos jornalistas é saber transpôr o nacional para o local, ou seja, perceber onde e como a noticia nacional tem impacto local e nessa altura dar-lhe o devido tratamento.

Um abraço
Manuel Chaves