«aquela magia da música que vem do éter, é um hábito que se está extinguir (…) a rádio enquanto escuta caseira é um hábito que faliu e que nos fugiu, e não há maneira de voltar». António Sérgio in "Suplemento DN" de 08 de Julho de 2005

terça-feira, 18 de julho de 2006

Emissoras em Portugal - são de mais?

Parece que as dificuldades das rádios locais estão para durar, principalmente para aquelas que são do interior, mas são estas emissoras que cumprem o seu papel de informar a população local de assuntos que só a ela dizem respeito - o que numa emissora nacional dificilmente teria espaço.
O problema não é o número de emissoras. Até poderiam existir mais se não dependessem todas da exploração comercial (venda de espaço publicitário), como é o caso das rádios comunitárias - emissoras que não dependem de uma exploração comercial e que vivem de voluntariado. Em Portugal esse tipo de rádios não está prevista na Lei.
Mas há realmente muitas emissoras em Portugal? Vejamos: a Amplitude Modulada (AM) está cada vez menos explorada em Portugal - a explosão das rádios piratas, que emitiam em Frequência Modulada (FM), na década de 1980, foi o golpe final na AM. Desde aí, tem vindo a diminuir a sua importância no éter português. Em comparação, aqui ao lado, em Espanha, as rádios que emitem em AM são muitas.
Segundo dados da Anacom, dentro da banda AM, estão licenciadas 6 estações locais que trabalham em Onda Média (mas apenas uma no continente) e 3 nacionais. Apenas existe uma emissora em Onda Curta - a RDP-Internacional. Ao contrário de outros países europeus, o nosso país nunca teve tradição de radiodifundir em Onda Longa. É em Frequência Modulada (FM) que mais emissoras estão licenciadas: 355 estações locais, 2 regionais e 6 nacionais.
No que diz respeito à radiodifusão digital, em Portugal, apenas a RDP emite em Digital Audio Broadcast (DAB) e os mesmos conteúdos da FM. Por cá, também existem estações que transmitem em Digital Radio Mondiale (DRM) - neste caso a emissão (desde Sines) é dirigida a outros países. No entanto, não é de uma emissora portuguesa, mas sim uma concessão à alemã Deutsche Welle (DW).
Estas são as emissoras que trabalham no éter português. Agora é só fazer uma comparação com o número de emissoras que existem em Espanha.

1 comentário:

Anónimo disse...

As dificuldades das rádios locais estão para durar? Quais rádios locais?
Vejamos:
1. Aqui há uns anos, regressado do Luxemburgo, decidi apresentar uma proposta à rádio local do concelho de Oeiras (na altura, 'Rádio Comercial da Linha', hoje 'Oxigénio'). Tudo corria bem até ao momento em que eu disse:
- "Vocês, como uma rádio local..." - fui prontamente interrompido pela chefe de redacção que esclareceu - "Perdão, nós não somos uma rádio local. Somos uma rádio de Lisboa!".
Por delicadeza continuei a expor a minha ideia, sabendo obviamente que me tinha equivocado de interlocutor.
2. Nos anos 80 (do século passado) costumava passar férias perto de Tavira. Criei o hábito de, aí chegado, manter o rádio sintonizado na Rádio Gilão. Eu que sou, essencialmente, um homem da rádio fiquei fascinado com a criatividade e a originalidade da programação daquela estação - um rádio clube. Não sei se ainda hoje mantêm a programação imaginativa que os caracterizava, mas que tinham audiência, lá isso tinham. Porque sabiam na perfeição ajustá-la aos diferentes períodos do dia e da semana! Entre outros aspectos, na Gilão, ouvia-se do 'pimba' (a expressão só apareceu nos anos 90, mas o género sempre existiu)aos... Yes!
3. Quando ouço falar das «dificuldades das rádios locais» em Portugal, eu que comecei a fazer rádio numa estação local de Luanda, interrogo-me sempre por que carga de água é que as rádios aqui em Portugal, que são também empresas comerciais, não rendibilizam os seus tempos de antena, alugando-os a produtores independentes que os queiram ocupar...
A Lei da Rádio impede os proprietários de o fazerem? Bem, então, não se pode falar em rádios locais. Nem regionais, nem o que quer que seja. Apenas numa caricatura disso.
Se calhar, as rádios locais estão 'só' a sofrer as consequências de estarem entregues à pedantocracia que, como se sabe, é o predomínio dos medíocres ambiciosos.
E pensar que me vim embora de Angola porque não estava para aturar aquela burguesia ascendente...