«aquela magia da música que vem do éter, é um hábito que se está extinguir (…) a rádio enquanto escuta caseira é um hábito que faliu e que nos fugiu, e não há maneira de voltar». António Sérgio in "Suplemento DN" de 08 de Julho de 2005

sábado, 23 de dezembro de 2006

UM SÉCULO DE RADIODIFUSÃO SONORA

Amanhã, a radiodifusão faz 100 anos. Foi a 24 de Dezembro de 1906 que foi transmitido aquele que é considerado o primeiro programa de rádio.
Hoje em dia, o gesto de ligar um receptor radiofónico e sintonizar a emissora favorita é tão simples, que praticamente nem se dá por isso. A rádio é quase omnipresente nas nossas vidas. Onde quer que se esteja, se existir música é muito provável que a fonte seja uma estação radiofónica.
Com o passar do tempo tempo e com os avanços tecnológicos, a rádio arranjou plataformas de difusão muito diferentes. As emissões podem ser analógicas (AM ou FM), digitais (DRM, DAB, HD ou ISBD-T) hertzianas terrestres ou por satélite e, ainda, através da Internet.
Antes do advento da radiodifusão, as únicas fontes musicais, para além das actuações de músicos ao vivo, eram fonogramas (discos, cilindros ou fios de arame magnetizados) com uma qualidade sonora extremamente fraca e, como tinham um preço elevado, não estavam ao alcance de todos. As notícias praticamente só chegavam com os jornais e nem sempre eram recentes.
Foram muitos os que de alguma forma contribuíram com inventos ou estudos para que a radiodifusão fosse uma realidade. Não só na forma, mas também no conteúdo. Ainda antes do invento da transmissão de sinais à distância sem fios, já se utilizava o telefone de uma forma similar ao que viria a ser a rádio. O húngaro Tivadar Puskas efectuou, em 1893, o primeiro noticiário para vários telefones. Estava criado o princípio Broadcasting – de um para muitos.
A Telegrafia Sem Fios (T.S.F.), cuja patente foi atribuída a Guglielmo Marconi, existia desde 1896, sendo cada vez mais utilizada, dadas as suas vantagens. No entanto, desde logo houve quem tentasse reunir a facilidade de comunicação sem fios à distância com o conforto do telefone, já que este, por possibilitar a modulação de voz ou música, não exigia profundos conhecimentos de código Morse, necessário para as comunicações de T.S.F.. O padre brasileiro Landell de Moura foi um dos que faziam, desde fins do século XIX, estas experiências, tentando – e muitos dizem que o conseguiu – transmitir a voz à distância, através de ondas electromagnéticas. Seria, no entanto, Reginald Aubrey Fessenden que em 1900 - ano em que Marconi inventou a sintonização do comprimento de onda - conseguiria transmitir a sua voz através de um circuito sem fios. A experiência ficou registada para a posteridade num fonograma.
A dificuldade de transmitir a voz humana através de ondas electromagnéticas foi facilitada com várias invenções que surgiram no início do século XX. Em 1904, John Ambrose Fleming desenvolve o tubo de eléctrodos a vácuo (Válvula Termiónica), chamou-lhe Díodo. Em 1906, o cientista norte-americano H. C. Dunwoody descobre que cristais como a Galena (Sulfureto de Chumbo) podiam “detectar” ondas electromagnéticas de forma mais eficaz que o cohesor de Edouard Brandly. Neste ano, Lee DeForest baseia-se na Válvula Termiónica e inventa o Tríodo.
As principais peças electrónicas para que a rádio fosse uma realidade estavam descobertas. Só faltava alguém que reunisse estas invenções, e outros componentes tecnológicos já existentes, e as usasse para criar um emissor capaz de levar a voz humana de forma perceptível aos receptores de T.S.F.. Na noite de natal de 1906, o inventor canadiano Reginald Aubrey Fessenden, que vinha a trabalhar num emissor que reunia a mais moderna tecnologia, efectuou a primeira emissão de radiodifusão sonora, oferecendo aos operadores de Telegrafo dos barcos ao largo de Brant Rock, Massachussets, EUA, o primeiro programa de rádio.
O espanto dos radiotelegrafistas deveria ter sido enorme, pois em vez do crepitar dos sinais de Morse nos auscultadores, ouviram a voz de Fessenden, que leu algumas palavras da Bíblia, tocou o tema natalício Oh Holly Night no seu violino e desejou bom Natal a todos os que o escutavam. Este foi o evento que marcou o nascimento da radiodifusão sonora.

4 comentários:

Anónimo disse...

Nem fazia ideia disto. Como ouvinte aprendi mais alguma coisa.

Boas Festa

Anónimo disse...

Obrigado por esta "aula" de história da ráfio :)

Anónimo disse...

queria dizer "rádio", obviamente :)

Anónimo disse...

Muito bem senhor Jorge.

Arriaga, Ouvidor