«aquela magia da música que vem do éter, é um hábito que se está extinguir (…) a rádio enquanto escuta caseira é um hábito que faliu e que nos fugiu, e não há maneira de voltar». António Sérgio in "Suplemento DN" de 08 de Julho de 2005

sábado, 7 de outubro de 2006

Rádio Clube vai alterar o formato

Após alguns meses de rumores, chega a confirmação: em Janeiro próximo a Rádio Clube, da Media Capital Rádios (MCR), vai alterar o seu formato para ser uma rádio-notícias, tal como a TSF.
O projecto será apresentado no dia 22 de Novembro, dia do 75º aniversário do (saudoso) Rádio Clube Português – a estação emissora que cedeu o nome à Rádio Clube.
O Rádio Clube vai ter como consultores os espanhóis da Prisa, que detêm 33% da Media Capital e que contam com a experiência adquirida, em Espanha, na Cadena Ser - propriedade da Prisa - a maior cadeia radiofónica do país vizinho.
Em Espanha, o formato da Cadena Ser tem um enorme sucesso - é líder em todos os horários, com cinco milhões de ouvintes, quase tantos como os que todas as emissoras portuguesas têm - mas falta saber se o modelo será aplicado em Portugal. É que as realidades (radiofónicas, culturais, económicas, etc.) são diferentes, assim como os próprios comunicadores que trabalham nas estações.

4 comentários:

Luis Carvalho disse...

Bom, vejamos se o Luís Osório transforma o actual modelo do Rádio Clube num projecto de informação de boa qualidade, que consiga competir directamente com a TSF. O Rádio Clube como está actualmente é uma "Cassete FM" passando músicas "antigas" desde os anos 60 aos anos 90, julgo que ultimamente tem apostado mais em músicas dos 80s e 90s. Com o Rádio Clube "modificado" em Janeiro, a Média Capital deveria também aproveitar uma das frequências "fantasmas" [96.2 e 103.0 Barreiro, 106.2 Montijo e 101.1 Moita, além dos 100.8 MHz de Maia - sem esquecer aquela Foxx FM que deixa muito a desejar - 107.2 Amadora e V.N. Gaia] para emitir de novo a "Rádio Nostalgia", com êxitos dos anos 50/60/70: considero que era positivo relançar uma nova lista de difusão, vulgo playlist, para essa nova versão da Nostalgia, com mais músicas e artistas dessas três décadas.
A MCR também deveria investir na melhoria das condições de recepção da Rádio Comercial e do Rádio Clube (Rede Regional Sul) por forma a que estas duas rádios fossem ouvidas com melhor qualidade nalgumas localidades do Sul do país (no caso da Comercial, também a Norte). A Rádio Comercial é a estação de rádio nacional que tem menos emissores, mas tal não significa obviamente que tenha uma cobertura notável: há zonas onde a Comercial se ouve com muita dificuldade! O Rádio Clube, no Sul [e neste caso tenho de me limitar à Rede Regional Sul porque são as frequências legalmente atribuídas ao RC e onde a MCR pode mexer (com autorização por parte da ANACOM) legalmente nos emissores alegando deficiências de cobertura] também tem problemas de sintonização em certas zonas.
A RDP (Antena 1, Antena 2 e Antena 3)e o Grupo Renascença (RR e RFM) tem investido nos últimos anos na melhoria da cobertura radioeléctrica dos vários canais de âmbito nacional que estes grupos detêm, através da instalação de novos centros emissores nas zonas mais críticas onde a qualidade de audição dessas estações é má ou mesmo onde é tecnicamente impossível recebê-las por FM devido a questões geográficas ou técnicas (interferências de outros emissores). Podem ver as listas de frequências da RDP ou da RR para verem que têm sido abertos retransmisores ao longo dos anos com o objectivo de servir melhor as populações, que assim já podem desfrutar das rádios nacionais com a qualidade que elas merecem!

No caso da Comercial e da rede regional sul, o caso é diferente: desde que foram atribuídas as frequências de FM do saudoso Rádio Clube Português, ainda no tempo de Salazar, pouco se mexeu na rede de emissores que hoje é ocupada pela Comercial: não foram abertos retransmissores para resolver problemas de recepção atrás descritos. O mesmo se passou com a Rede Regional Sul, em que a única alteração feita foi "trocar" as frequências dos emissores de Santiago do Cacém (deslocalizados agora para Grândola) e o da Fóia (Serra de Monchique).
Com este cenário, quem fica seriamente prejudicado, é evidentemente, o ouvinte que deseja sintonizar uma destas rádios.


Em relação à programação da Comercial, considero que, ao contrário da sua concorrente RFM, a Comercial tem apostado em novos formatos, como programas de autor (Comercial in the Mix, Água & Sal, 80 à Hora, etc...), mas o actual modelo de programação deveria ser mais abrangente, apostando em mais estilos musicais e tornando a rádio mais humana, com animadores que "dêem o seu melhor", não se limitando a anunciar as horas (isso é função de um aparelho chamado relógio!), as músicas (que pouco variam!) e o trânsito (é sempre bom saber o trânsito, mas um apresentador limitar-se a isso, é muito pouco...)


Saindo um pouco fora do assunto, considero que era bom que houvesse uma nova rádio em Lisboa. Quem estiver a ler estas palavras, provavelmente, dirá que já existem muitas rádios na capital. É verdade! Mas já repararam no modelo de programação dessas rádios? Cidade FM (música para jovens), Best Rock (o nome diz tudo!), Mega FM (a "salada" miscelânica da Renascença), RDP África (programação para etnias africanas)). A honrosa excepção é a Rádio Europa Lisboa (90.4 MHz - antiga Rádio Paris Lisboa) que mesmo assim ainda aposta em programação mais local... Convenhamos que uma Cidade, Mega ou Best tanto pode ser de Lisboa como de outra cidade qualquer: qual é diferença determinante entre a Cidade FM Lisboa e a CFM Alentejo, por hipótese? Quase nenhuma, salvo os noticiários locais e os jingles desta última... A programação é praticamente a mesma.

O que realmente falta em Lisboa é uma rádio local não temática que aposte numa programação de proximidade em que se falasse dos problemas e situações, quer positivas, quer negativas da cidade: era preciso mostrar o quotidiano de Alfama, do Chiado, do Areeiro, do Cabo Ruivo, de Chelas, de outros bairros da cidade... Até porque, como é lógico, as rádios nacionais não falam das "pequenas notícias" da cidade de Lisboa. Ou são situações bastante pertinentes para passarem na Antena 1, TSF, RR e outras, ou passam despercebidas dos ouvintes de rádio. Verdade seja dita: existe a RR Lisboa, Onda Média 963 KHz (Seixal) que emite programação local para a Grande Lisboa, mas não é suficiente para fazer face às necessidades da população da capital... É preciso ter um espírito jornalístico mais aberto aos pequenos pormenores da vida de uma cidade, para isso deveriam servir as rádios locais. E isto não se aplica só a notícias: se querem publicitar um restaurante no Parque das Nações ou uma loja do Colombo, provavelmente não faz tanto sentido colocar anúncios na RFM ou Comercial, por exemplo, pois os ouvintes do Porto ou de Coimbra (ou de outra zona qualquer do país), acabariam por ignorar essa publicidade por não pertencer à região onde vivem... Este tipo de publicidade deveria passar numa rádio verdadeiramente local de Lisboa! É verdade que há quem recorra a rádios locais das redondezas, no Seixal, Sintra e outros concelhos próximos de Lisboa, mas não deveria ser utilizada uma rádio da própria cidade de Lisboa para este tipo de situações? Julgo que a Cidade FM e restantes rádios da capital tem publicidade local, mas será que a maioria dos lisboetas se enquadra nos gostos musicais dessas rádios? Se eu preferir o som da Radar ou da Oxigénio ao som da Cidade FM, de nada me serve terem um anúncio bastante apelativo nos 91.6 MHz... Para mim, uma verdadeira rádio local é aquela que se tenta enquadrar num público alvo vasto do concelho onde se insere, de várias classes etárias e vários perfis sociais, culturais, políticos, religiosos, etc... Não é querer agradar aos jovens ficando as pessoas de maior idade "obrigadas" a ouvir o Rádio Clube (se gostam de
"oldies"), a Antena 2 (se gostam de música clássica)... E se por acaso for uma pessoa que gosta de fado? Tem de sintonizar rádios de outros concelhos ou ter de ouvir, quando dá, na OM da RR Lisboa... Não seria melhor para os ou20s desenvolver uma nova rádio local para Lx que se destacasse no jornalismo local e complementasse a oferta radiofónica que tentasse agradar a todos os lisboetas?


Cumprimentos,
Luís Carvalho

PS - desculpem o longo "testamento", mas considero que foi uma boa altura para "desabafar"...

Anónimo disse...

Muita parra, pouca uva.
O que quero dizer com isto é o seguinte: Desataram em 88 a distribuir alvarás à fartazana e não se preocuparam com a diversidade. Agora é tarde. O mercado está todo distorcido e como o Luis diz acima, há muita rádio mas pouca variedade.
Desculpem o anonimato por razões profissionais, mas garanto que alertei gente responsável deste país que o melhor era fechar tudo e redistribuir tudo de novo. Impossível disseram. Compreendi. Mas é uma perda terrível.
Tenho repetido os exemplos de funcionamento da Radio Authority em inglaterra que não distribui frequencias a quem as quiser adquirir. Abre concursos por formato de rádio, ie, diz que a frequencia X na cidade Y vai ser uma rádio de jazz, por exemplo. Quem quiser concorre, mas é certo que terá de transmitir jazz.
A autoridade inglesa garante assim que em cada cidade/região, há variedade de escolha. Como o Luis diz no seu post, em Lisboa ouvem-se mais de 40 radios, mas nem metade de formatos/estilos diferentes.
Quem ficar à espera que o mercado faça auto-regulação, então desengane-se. Não vai. Vivemos até num dos únicos países do mundo onde 2 das 3 radios nacionais de perfil musical (RFM e Comercial) são rádios com o mesmo formato (se bem que na era pós Tojal, a Comercial procedeu a algumas "boas" alterações).

Jorge Guimarães Silva disse...

Obrigado pelos excelentes comentários.

Anónimo disse...

Pena o do Luis ser tão extenso... testamentos desses cortam o interesse...