Já é de sábado passado, mas só hoje li o artigo do DN, «O colapso das rádios locais», da autoria de Nuno Azinheira (não está online).
O artigo começa com uma pergunta bastante pertinente: «O que sobra das 314 rádios locais legalizadas em 1989 pelo governo de Cavaco Silva?» A resposta, também dada pelo articulista, é curta e elucidativa: «Pouco».
Nuno Azinheira dá um exemplo do estado a que as rádios locais chegaram: «num concelho (Sintra, um dos maiores do País) que, à época, tinha três rádios locais (duas delas de forte cariz informativo) e três grandes semanários jornalisticamente relevantes, sobram hoje estações que pouco mais fazem do que debitar música (uma delas transmite desde sempre programação religiosa, com os seus pastores brasileiros)(...).
A rádio de que vos falo (Ocidente, em Mem Martins) acaba de ser comprada pela Renascença, desconhecendo-se ainda o que o grupo que lidera a rádio em Portugal pretende fazer com ela. Mudar-lhe o nome, mudar-lhe o perfil, torná-la retransmissora de uma das suas estações são, para já, possibilidades.
Imaginar o fim de uma das mais importantes rádios da Área Metropolitana de Lisboa nos anos 90, confesso, é, para mim, difícil de engolir.
Os leitores perdoar-me-ão a escorregadela afectiva. Mas, emoções à parte, o retrato da rádio em Sintra é um espelho fiel do que se passa por todo o País»
Nuno Azinheira tem razão. A maioria das rádios locais divide-se hoje «em retransmissores de cadeias nacionais, em descarados amplificadores de confissões religiosas, em rádios musicais tipo nostalgia, ou, pura e simplesmente, correias de transmissão de caciques políticos locais».
É triste, mas é verdade.
O artigo começa com uma pergunta bastante pertinente: «O que sobra das 314 rádios locais legalizadas em 1989 pelo governo de Cavaco Silva?» A resposta, também dada pelo articulista, é curta e elucidativa: «Pouco».
Nuno Azinheira dá um exemplo do estado a que as rádios locais chegaram: «num concelho (Sintra, um dos maiores do País) que, à época, tinha três rádios locais (duas delas de forte cariz informativo) e três grandes semanários jornalisticamente relevantes, sobram hoje estações que pouco mais fazem do que debitar música (uma delas transmite desde sempre programação religiosa, com os seus pastores brasileiros)(...).
A rádio de que vos falo (Ocidente, em Mem Martins) acaba de ser comprada pela Renascença, desconhecendo-se ainda o que o grupo que lidera a rádio em Portugal pretende fazer com ela. Mudar-lhe o nome, mudar-lhe o perfil, torná-la retransmissora de uma das suas estações são, para já, possibilidades.
Imaginar o fim de uma das mais importantes rádios da Área Metropolitana de Lisboa nos anos 90, confesso, é, para mim, difícil de engolir.
Os leitores perdoar-me-ão a escorregadela afectiva. Mas, emoções à parte, o retrato da rádio em Sintra é um espelho fiel do que se passa por todo o País»
Nuno Azinheira tem razão. A maioria das rádios locais divide-se hoje «em retransmissores de cadeias nacionais, em descarados amplificadores de confissões religiosas, em rádios musicais tipo nostalgia, ou, pura e simplesmente, correias de transmissão de caciques políticos locais».
É triste, mas é verdade.
18 comentários:
Há coisas que não se protegem por decreto. Infelizmente, a cultura profissional dos gestores da generalide das rádios locais não esteve à altura.
O desafio era e é dificultado pela escala do negócio: local vs. estrutura mínima. Logo, as soluções mais magras foram as mais viáveis, ou pura e simplesmente, a venda.
Felizmente ainda há alguns oásis raros.
João de Sousa
Infelizmente é o cenário que temos. O problema não se limita, como facilmente se entende a Sintra. Considero que o mais importante agora é tentar perceber as causas para tomar medidas de forma a evitar que de futuro as rádios locais, tal como as conhecemos e com o objectivo a que se propuseram(falar daquilo que é local ) não desapareçam.
Lá diz o povo: "o que torto nasce ..."
mas não é assim tão fora de lógica.uma rádio local em trás-os-montes,no alentejo ou nas beiras é diferentes.nesses lugares o cabo e a net ainda são entidades estranhas.
e além disso existe a questão sentimental,da ligação á terra.fazer uma emissão sobre o concelho de sintra,que é uma autêntica miscelania cultura e linguistica, em que as pessoas não tem ligação afectiva á terra é dificil.o mercado quantitativo pode ser grande mas em termos qualitativos é muito pequeno
Há rádios locais que ainda merecem ser ouvidas!
No grande Porto a situação é particularmente alarmante. Das 6 frequências consignadas apenas 2 emitem com estudios locais:
90.0: Radio Activa, ultimamente reconvertida em retransmissor da Cidade FM
94.8: Radio Festival com estudios locais na Rua da Alegria
98.9: Radio Nova com estudos locais nos pinhais da Foz
95.5 e 91.5: Frequências actualmente fantasmas. A 1ª silenciada pela ANACOM e a 2ª não emite desde que a Radio Press (hoje retransmissor da TSF) passou a ocupar a Rede regional Norte.
Nos concelhos limitrofes, apenas existem a Radio Clube de Matosinhos, Radio Nova Era e Gaia FM (Iurd). Tudo o resto serve de retransmissor de estações sediadas em Lisboa:
102.7 (Gondomar): Capital
90.6 (Gondomar): Mega FM
100.8 (Maia): Romantica
105.5 (Ermesinde): Best Rock
89.5 (Matosinhos): RCP
107.2 (Gaia): FOXX FM
Porto e Grande Porto:
Rádio Press agora TSF (Lisboa)
Rádio Clube de Gondomar agora Radio capital ( Lisboa/Almada);
Rádio Atlantico matosinhos agora RCP ( Lisboa);
Rádio 7FM Maia agora cassete de Lisboa:
Rádio Activa agora Cidade Lisboa;
Rádio Prisma Rio Tinto agora Mega Lisboa;
Rádio Paralelo Ermesine agora Best Lisboa.
Lisboa aqui tão perto...
Não se esqueçam da Rádio Lidador, que continua a fazer na programação e informação o que ninguèm faz a nivel local no grande porto.
Radio Lidador até quando? Salvo erro o dono dessa estaçaõ da Maia, é o mesmo que acabou com as emissões locais dos 89.5, 100.8 e 105.8, tornando-as em retransmissores Lisboetas, ou não?
Não sei quem é o dono da Rádio Lidador, mas ouço de vez em quando e ao que me parece têm uma emissão agradável e com muita gente a trabalhar, pelo que não tenho tanta certeza que seja para acabar......
O que eu acho é que deveriam retirar o alvará a todas as estações RETRANSMISSORAS e atribuir uma só frequência por concelho.
Acabem-se com as retransmissões e (re)concedam-se alvarás por concelho, fora de grandes aglomerados urbanos como é o caso de Lisboa e Porto. Nestas áreas metropolitanas as rádios locais são regra geral musicais e fazem a diferença ao panorama das que têm emissão nacional. No resto do país há um grande deserto cultural. Uma situação que pode, e deve, ser reajustada...
Proceda-se à avaliação (séria) da capacidade financeira das locais e à viabilidade do seu modelo de negócio e reorganize-se o mapa das estações, impedindo a proliferação de pequenas estações de rádio que em nada enriquecem o panorama radiofónico nacional, nem serve a comunidade em que estão inseridas. Banalize-se a Internet e o acesso banda larga para permitir a criação de projectos comunitários. Olhe-se para o futuro e não para o passado...
O meu ex-colega e amigo Nuno Azinheira tem toda a razão. Mas como sempre existem os culpados destas coisas acontecerem, e isso prende-se com os donos dessas mesmas rádios. É que eles, faziam-nas sem um projecto definido, mas era fino dizer “eu sou dono da rádio tal”. Por exemplo, conheci o dono de uma empresa ligada à venda de artigos de construção, porque tinha dinheiro, comprou uma estação de rádio. E ao fim de um mês fez uma reunião para os colaboradores da rádio dizerem, o que achavam da sua capacidade para gerir a mesma.
As chamadas rádios locais, se tentassem fazer um trabalho sério, virado principalmente para o desenvolvimento das suas zonas geográficas, em vez de tentarem copiar o que as outras faziam, talvez durassem mais tempo. O que essas rádios na sua maioria faziam era, copiar os noticiários da Antena 1, TSF e não só. E depois punham, música de qualquer maneira, até que depois inventavam com a conivência de certas editoras discográficas as Playlist. Quero dizer, se não passassem aquelas músicas, na semana seguinte não tinham os chamados discos de promoção que, volta volta e meia, acabavam por desaparecer, ou então eram fechados para certas pessoas só terem possibilidade de os passar.
Eu fui um dos fundadores de uma das maiores rádios do concelho de Sintra, falo da Rádio 11 de Queluz, durou apenas dois anos (1989 e 1990) só no primeiro ano, ela ocupou terceiros e quartos lugares da audiometria. Mas isso ficou a dever-se, primeiro pelos amadores, que na sua maioria estão hoje na SIC, TSF e noutros grandes órgãos da Comunicação Social. Depois porque direccionava-se as emissões para assuntos essencialmente locais, fruto de um projecto definido em função das sondagens feitas pela direcção (cooperativa).
Por exemplo, o Nuno Azinheira (ele que me perdoe) fez parte numa rádio de Sintra, de uma das melhores equipas de relatadores, comentadores e responsáveis pelo futebol e outras modalidades como o Hóquei patins ou andebol e basquetebol, em que foram convidados pelas entidades federativas, para irem por várias vezes, fazerem a cobertura internacional desses eventos. E era uma simples rádio local, só que tinham uma das melhores equipas de desporto já vistas nas rádios oficiais, quanto mais nas locais.
As rádios locais chegaram ao que chegaram, por culpa dos seus responsáveis que não têm na maioria conhecimento do peso que elas têm, muitos deles nem sabiam ligar os emissores.
É triste, mas é essa a realidade infelizmente, e eu que o diga que andei lá dezassete anos.
Faço das palavras do Nuno Azinheira, as minhas.
Ai que saudades dos tempos da pirataria.
Chico
Olá amigos lí texto e comentários. Infelizmente aqui no Brasil estamos caminhando para a mesma situação. As grandes redes "estão engolindo" as pequenas emissoras das cidades interioranas, quase sempre em dificuldades financeiras, ainda mais agora que o governo brasileiro está liberando milhares de concessões de rádios tanto comunitárias como comerciais. As grandes redes estão tornando essas pequenas emissoras comerciais, suas retransmissoras, exatamente pela falta de conhecimeto da área e falta de recursos financeiros dos donos das pequenas rádio. É triste mas é verdade. E tanta coisa boa pode ser feita pelas pequenas emissoras.
Se pensam que o pior das rádios locais passa pelo vosso ouvido, em Setúbal a coisa virou de má a péssima. Nesta cidade existem 3 rádios; Rádio Voz, Rádio Azul e Rádio Jornal. Das três não se tira uma de proveito;nem na música, nem nos locutores, nem na programação.
Tudo porque existe um engenheiro (?) que é dono das três.
O negócio fez-se porque este dito engenheiro queria ser eleito presidente da Câmara de Setúbal "à força", através dos microfones das rádios. Mas o truque não deu resultado e as Rádios estão à beira do colapso.
Não existem Directores de Programação (ou se existem são só de nome), jornalistas só com carteira caducada e técnicos que mais parecem advogados do diabo (visto a técnica ser algo com a qual as rádios não podem dispensar como os locutores)... O dono? Esse nem dá a cara e colocou como gerentes "paus mandados".
As rádios deviam servir as localidades, certo? Errado! As rádios servem para colocar quem os donos lhes bem parecem (de preferência quem queira fazer rádio sem ganhar dinheiro.
Penso eu... O que está a fazer o Instituto de Comunicação Social, entidade regulador e fiscalizadora quanto a estes assuntos? Já sei, a desligar telefones a quem pede informações sobre a "legalidade" das estações.
Despedem-se os locutores e os jornalistas, gravam-se programas em off para passarem no computador como se estivesse alguém na rádio, ameaçam-se profissionais competentes e depois colocam-se aos micros, a senhora da limpeza a "desenrascar" a emissão, o amigo da senhora que faz Karaoke e tem jeito para mexer nos "botôes", o amigo do amigo, a mulher do amigo,etc.Tudo gente amiga e néscia.
Pouca cultura, total desinformação e assim estamos nós em pleno século XXI a ter que ligar o rádio e ouvir barbaridades, músicas obscenas e linguagem de bairro, frases desconexadas e sem sentido, eu sei lá mais o quê!...
Tudo porque quem manda, tem poder para calar, pois o dinheiro continua a falar mais alto e o Governo é conivente com estas criaturas que de rádio nada sabem e nada percebem e que acabam por prejudicar a vida de quem quer trabalhar digna e profissionalmente!
Um conselho: se forem a Setúbal, não ouçam as rádios locais...
Pontos para as rádios piratas! Promovam-se as rádios piratas. De certeza que teriam maior qualidade e dignidade que as actuais.
Passei por aqui e vi o comentário sobre as rádios locais. Como ex-trabalhador acho que alguém precisa de fazer alguma coisa ou isto vai dar na velha mas amada pirataria. Fui "pirata" e pioneiro de uma rádio local. Como estou na casa dos 60 anos despediram-me porque queriam programas mais estilo "RFM" e que aguardavam maiores invenstidores de multinaconais a apostarem na rádio. Fui sempre locutor de programas culturais e defensor de que as rádios locais servem para isso mesmo: servir o local onde existem e não serem uma imitação barata das nacionais à espera do pote de ouro no fundo do arco-iris. É ridiculo que rádios de fracos recursos estejam a pensar que a "Coca-cola" esteja de braços esticados para patrocinar programas de "música-a-metro" sem objectivos.
Tenho pena dos ouvintes que podiam ligar para as estações emissoras e participar de uma forma aberta e espontanea, sem complexos. Agora ouvem o disquinho gravado e alto lá!...Só com as músicas da play list.(e isto já não é para todos). Fantástico o mundo em que vivemos! O melhor é fazer um referendo quanto aos alvarás atribuídos. Ser rádio local já não é o que era...
Façam nascer novas rádios mesmo que piratas, mas sirvam as comunidades.
Ui ui... Li atentamente todos os comentários e vejo que a coisa não está nada famosa. Ou então só estamos a ser apenas demasiado pessimistas. Mas pelo que li, infelizmente já chegou também ao Brasil.
Actualmente estou nos 98.2, em Lisboa, que também é uma Rádio Local, e muito honestamente os meus “amigos” precisam de fazer algo. Apresentem ideias, projectos sustentados com os Vossos próprios patrocinadores e vamos então todos juntos, em equipa, fazer RÁDIO.
Gostam de Rádio? Amam a Rádio? Vejo que são apaixonados pela Rádio. Então mãos à obra. Sei que falar é fácil, mas as palavras por vezes são o princípio de início de uma longa caminhada. Lembrem-se sempre: “dos fracos não reza a história”
Há que erguer os braços e colocar as perninhas no terreno e fazer algo. Trabalho, trabalho e mais trabalho é o que se precisa. Se houver trabalho, vai haver publicidade (como sabem sem ela, é difícil manter uma Rádio).
Que venham essas inciativas, essa vontade, essa força para o terreno. Não vamos esmorecer, olhar para o passado. Vamos é pegar no saber do passado, lançá-lo no presente, projectando o futuro.
A idade, o saber, não interessa. Precisam-se de pessoas com iniciativa. E todos os que colocaram comentários aqui, parece que são pessoas com garra, com incitava. Vamos fazer da Rádio, uma Rádio para o exterior.
Espero por vocês.
Um abraço!
Tenho saudades de fazer rádio. Se isto interessar, tenho mais de duas dezenas de anos ligados á imprensa rádio e escrita. Fui autor e responsável de vários programas, apresentador de espectáculos etc. etc.. Se quizerem saber mais, escrevam-me rodagem@gmail.com
Um abraço deste "Pirata" e não só.
Fiz parte como locutor, passava música Portuguesa, no programa da noite.Rádio Paralelo de Ermesinde e também na Rádio Lidador da Maia.
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