«aquela magia da música que vem do éter, é um hábito que se está extinguir (…) a rádio enquanto escuta caseira é um hábito que faliu e que nos fugiu, e não há maneira de voltar». António Sérgio in "Suplemento DN" de 08 de Julho de 2005

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

Rádio digital

Desde 1998 que Portugal usufrui de rádio digital. O sistema Digital Audio Broadcast (DAB) foi o escolhido, mas passados oito anos tudo continua na mesma: a única estação a transmitir em digital continua a ser a RDP e os ouvintes que a escutam em DAB não serão muitos, porque um receptor ainda é caro, e os mesmos programas podem ser escutados simultaneamente em Frequência Modulada (FM).
Os ensaios com a rádio digital sucedem-se por essa Europa fora, mas as experiências não têm tido os melhores resultados, havendo, inclusive, alguns países que têm abandonado as emissões em DAB. A excepção é a Inglaterra, onde a oferta de emissões em DAB é maior e a venda de receptores vai de vento em popa.
A verdade é que o DAB não apresenta muitas vantagens sonoras em relação à FM. O argumento esgrimido de melhor som tem sido rebatido na prática, com muitos ouvintes a queixarem-se. A rádio é essencialmente áudio, e num carro - o local onde, hoje em dia, a rádio é mais escutada - é o essencial. Tudo o resto - os serviços que o DAB pode oferecer em paralelo com o áudio - pode levar a uma desatenção por parte do condutor e colocar em perigo a segurança rodoviária.
No que diz respeito à qualidade áudio, o sistema digital que apresenta vantagens é o Digital Rádio Mondiale (DRM) - um sistema emergente que realmente aumenta a qualidade do áudio da Amplitude Modulada (AM) para um patamar próximo ao da que se escuta em FM. No sítio do DRM pode ser comparada a qualidade áudio entre emissões em AM (Onda Curta) e DRM. A emissão que é feita em Portugal, desde Sines, da estação alemã Deutsche Welle (DW) também está lá para comparação. As diferenças são evidentes.

P.S. - O blogue Rádio e Jornalismo tem um texto sobre o seminário que a Associação Portuguesa de Radiodifusão (APR) promoveu na passada quinta-feira sobre a Rádio Digital.

6 comentários:

Anónimo disse...

Tudo (quase) verdade, embora com uma importante excepção:
Como frisou, e bem, a escuta rádio significa CARRO. E, embora ignorado o facto, essa e a grane diferença do DAB para o FM. Isto é, mais do que um aumento significativo de qualidade áudio, é o acabar da interferência no automóvel, que confere ao DAB uma vantagem competitiva.

Quanto aos problemas de som, qualidade se quiser, há um MAS...

As notícias que vários BLOGS recolheram neste domínio, vêm das queixas dos ouvintes britânicos.
Embora esses problemas sejam reais, é bom contextualizar.
O problema não resulta da tecnologia DAB, mas antes do excesso de oferta por multiplex.
Se você tiver 600 Kbps e lá colocar 3 canais conseguirá um som fantástico. Agora, se funcionar com 40 e 50 Kbps para canais de música porque lá coloca 10 a 12 canais, é evidente que a qualidade chega quase a ser inferior ao FM.

O DAB, creio, não tem os dias contados. A sua evolução é porém inevitável. O DVB-H ou o DMB serão o passo seguinte. Feitas as comparações, o DAB é um telemóvel da 1ª geração. O DVB-H será a 3ª geração.

O DRM é igualmente possível, admitindo que permitirá mesmo a digitalização do FM, possível de vingar no futuro.


Cumprimentos

Anónimo disse...

O DAB e o DRM colocam duas filosofias de operação bem diferentes:
o DAB implica um distribuidor de conteúdos que agregue vários canais (conteúdos);
o DRM permite que as estações tenham o seu próprio emissor, totalmente digitalizado ou misto.
As implicações na organização empresarial inerente são diferentes.
Se o primeiro pode parecer estranho ao tecido empresarial das rádios locais, pode (e digo apenas pode, não sei se será) trazer economias de escala e rentabilização pela profissionalização da estrutura de emissão. A escala geográfica de emissão também seria diferente da actual em FM (para as locais).
O DRM (para o FM) permite manter o stato quo.

Agora, algo que não foi focado no seminário, mas que pode fazer a grande diferença, sobretudo nas gerações mais novas: que possibilidade de feed-back oferecem os ditos serviços complementares de cada sistema? Qual permite maior interacção?

Não se pode pensar na tecnologia independentemente das possibilidades de conteúdos. E a rádio precisa de saber responder a este "segundo choque". Não se trata apenas de digitalizar o som. É preciso repensar a rádio.

João de Sousa

Jorge Guimarães Silva disse...

Concordo plenamente com o que o João de Sousa disse.
Gostaria, já agora, de dizer ao "Anonymous" que colocou o comentário da 1:22 AM que o DAB só tem melhor qualidade áudio se tiver um bit rate superior a 192 kbps - e para que sirva de meio de comparação, um CD tem um bit rate de 256 kbps.
As estações no Reino Unido emitem entre 160 kbps e os 80 kbps, algumas emitem com 192 kbps, mas são uma meia-dúzia. Ou seja, se transmitissem com 256 kbps não ficaria nenhuma largura de banda para transmitir os conteúdos paralelos. A 80 kbps a qualidade pouco melhor é que a conseguida em Onda Média.
Dois links para notícias dos jornais "The Guardian" e o "Telegraph" acerca deste assunto:

http://www.telegraph.co.uk/news/main.jhtml?xml=/news/2006/01/16/ndab16.xml

www.guardian.co.uk/g2/story/0,3604,1687880,00.html

Um abraço para todos e obrigado pelos vossos comentários.

Anónimo disse...

Olá Jorge,

Foi o que eu disse. A limitação de espectro para o excesso de oferta que houve na GB limita a qualidade do DAB.
Em relação ao débito de cada estação, aqui fica a lista. As estações de música, não ultrapassam os 192 Kbps /BBC Radio 3 e mesmo esse vai ser reduzido.
Aqui fica a lista.
National DAB Stations DAB
(kbps)
BBC Radio 3 192 or 160
Classic FM 160
Virgin Radio 160
BBC Radio 1 128
BBC Radio 2 128
BBC 6 Music 128
BBC 1Xtra 128
Planet Rock 128
Prime Time 128
BBC Radio 4 FM 128 or 80
Core 128
Life 128
BBC Radio 5 Live 80
BBC7 80
BBC Radio 4 LW 64
BBC Radio 5 Sports Extra 64
BBC Asian Network 64
BBC World Service 64
OneWord 64
Talk Sport 64


J.

João Pimentel Ferreira disse...

Caros

Para mim o futuro, visto já termos acesso à Internet em muitos locais públicos através de redes sem fios locais, ou em todo o lado através de tecnologia de terceira geração móvel (3G), o futuro é a rádio pela Internet.

A oferta é vastíssima, qualquer um pode ser um transmissor, podemos ouvir desde samba do Brasil, até aos relatos de hóquei canadianos, e se a largura de banda for razoável, o que já é com 3G, a qualidade de audio é formidável e melhor que o FM e o DAB

Anónimo disse...

@João Pimentel Ferreira

O problema é que a rede "internet" impõe a existência de um ponto inicial dirigido a um ponto final através de um intermediário.
Veja que para você poder ouvir o tipo de rádio que referiu, obriga a que tenha um intermediário a fornecer-lhe um ip de internet para você poder aceder ao ponto inicial que está a emitir essa música ou relato.

No caso as tecnologias TDT e DAB só existe o ponto inicial. Sendo que os pontos finais são "teoricamente" ilimitados. É isso que permite um custo muito inferior quer ao ponto inicial quer ao ponto final.

Só se fossem criadas redes de internet de acesso livre que permitisse a utilização de determinados serviços é que a sua ideia podia funcionar mas os muitos milhões de milhões de euros que dão de lucro ás operadoras móveis nunca deixarão que exista esse serviço "livre".