«aquela magia da música que vem do éter, é um hábito que se está extinguir (…) a rádio enquanto escuta caseira é um hábito que faliu e que nos fugiu, e não há maneira de voltar». António Sérgio in "Suplemento DN" de 08 de Julho de 2005

domingo, 5 de fevereiro de 2006

Qualidade sonora: a quem interessa?

Numa altura em que existem suportes áudio que atingem uma qualidade sonora superior (em comparação com a atingida pelo CD), é o áudio comprimido - com uma qualidade inferior - que tem conhecido uma maior expansão.
Vivemos com o áudio analógico até aos anos oitenta do século passado. Discos de vinil e cassetes de fita magnética analógicas eram os suportes de eleição caseiros para quem queria ouvir sons gravados. As estações de radiodifusão, além destes suportes, usavam bobines e cartuchos de fita magnética. Depois veio a febre do digital: o Compact Disc Digital Audio, vulgo CD; o Digital Audio Tape (DAT); a Digital Compact Cassete, que teve uma vida efémera, e o Mini Disc.
O CD foi anunciado como o som perfeito e eterno, mas rapidamente se constatou que assim não era e sofria dos mesmos problemas dos discos de vinil: microfonia, má leitura devido aos riscos, etc. Além disso, os ouvintes, numa audição “cega”(1), preferiam o som do disco analógico. O DAT, devido ao seu elevado preço, só encontrou aplicações profissionais. Mais tarde surgiu o Mini Disc (MD), que substituiu o walkman de cassetes, e até se tornou popular, perdendo apenas importância quando os Leitores de Áudio Digital (LAD), de disco duro ou cartões flash amovíveis, surgiram.
Os mais puristas – principalmente os audiófilos - criticaram a qualidade áudio do CD desde o seu início e finalmente as empresas de aparelhos áudio de consumo deram-lhes razão. Surgiram, então, dois formatos com vista à substituição do CD: o DVD – Audio e o Super Audio Compact Disc (SACD) (2). Curiosamente estes dois suportes – com uma qualidade sonora muito superior ao do CD – apareceram numa altura em que o áudio digital comprimido (3) começava a ser bastante popular.
Os CDs (e os SACD e os DVDs) são caros para a esmagadora maioria dos jovens (e não só). Os ficheiros mp3 vieram permitir que se tivesse acesso a um vasto universo musical, em muitos casos de forma gratuita.
A Internet permitiu que ficheiros de áudio fossem trocados entre os internautas para escuta no computador. Rapidamente, as empresas de hardware aperceberam-se do "filão" e começaram a fabricar aparelhos portáteis, que permitiam a leitura de áudio digital mp3, wma, Org, etc. Quem não gostou da brincadeira foram as empresas discográficas que rapidamente processaram judicialmente sítios que permitiam a troca livre de ficheiros áudio (como o Napster). Provavelmente a troca de ficheiros áudio até diminuiu, mas não cessou. Com os LAD surgiu uma nova forma de troca de músicas entre utilizadores, que haveria de evoluir até que o iPod, da Aplle, se transformar num standard levando, mesmo, a que o adjectivo para a troca de ficheiros entre aparelhos fosse uma aglutinação das palavras «iPod» e «broadcasting»(4) e que deu em «podcasting».
A verdade é que só quem cultiva o gosto pela qualidade sonora (normalmente conhecidos como audiófilos) é que está disposto a gastar cerca de quinze euros (ou mais) por disco, além de muitas centenas ou milhares de euros numa aparelhagem de som, numa tentativa de aproximar o áudio gravado que têm em casa à de uma actuação musical ao vivo. Grande parte da juventude não tem a preocupação de atingir um patamar superior na qualidade sonora, até porque, enquanto o audiófilo gosta de escutar música acústica (Jazz e/ou clássica), a generalidade dos jovens escutam sons electrónicos e/ou com efeitos (gerados por um sintetizador ou computador, como no caso da música de dança underground, ou então com guitarras eléctricas, como no Heavy Metal) que quase nada, ou nada mesmo, dizem a um audiófilo. É certo, no entanto, que a escuta é subjectiva - a forma como percepcionamos as vibrações acústicas (o som) depende de uma série de factores como idade, sexo, cultura, etc. Mas quem tem um LAD não está interessado em escutar a sua música favorita com “qualidade audiófila”. O que ele quer é encher o seu LAD com a música que gosta e se ela for “de borla”, melhor!

(1) - Numa audição “cega”, o ouvinte não sabe que suporte áudio está a tocar, escolhendo depois a que lhe soa melhor.
(2) – O CD apenas permite áudio em mono ou estéreo, enquanto que o DVD – Audio e o Super Audio Compact Disc permitem, também, som multicanal 5.1 (surround).
(3) – Existem muitas codificações digitais com compressão para o áudio, mas a mais popular é a mp3, que pode reduzir o tamanho de um ficheiro até doze vezes.
(4) - Broadcasting é o termo inglês para radiodifusão.

1 comentário:

Luis Carvalho disse...

Há vários sites na Internet que explicam o funcionamento destas novas tecnbologias de gravação de som:


Super Audio CD:
http://www.cdfreaks.com/article/95
http://www.superaudio-cd.com/
http://www.sa-cd.net/



CD Áudio:

http://en.wikipedia.org/wiki/Audio_CD



DVD Áudio:

http://en.wikipedia.org/wiki/Audio_DVD
http://www.dvdplanet.com/main_dvdaudio.asp


MP3:

http://en.wikipedia.org/wiki/MP3
http://www.iis.fraunhofer.de/amm/techinf/layer3/