«aquela magia da música que vem do éter, é um hábito que se está extinguir (…) a rádio enquanto escuta caseira é um hábito que faliu e que nos fugiu, e não há maneira de voltar». António Sérgio in "Suplemento DN" de 08 de Julho de 2005

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

O “Página Um” das décadas de 1960/70

Ainda a propósito do texto anterior, e porque muitos ouvintes/leitores não sabem – ou não se lembram - o que era o “Página Um”, eis em que consistia o programa.
O "Página Um" era emitido de segunda a sexta-feira, das 19h30 até às 20h30 (mais tarde, o horário foi alargado até às 21h), em Onda Média, pela RR. Teve início a 2 de Janeiro de 1968 e durou até 1974. A realização do programa estava a cargo de José Manuel Nunes e de Luís Paixão Martins. A equipa, para além dos realizadores, era formada por Adelino Gomes, Homero Cardoso, Fernando Santos e Fernando Tenente. Com o programa colaboravam ainda Amaral Marques, Maria Emília Correia, José Vieria Marques, Fernando Cascais, Viriato dias, Joaquim Letria, António Cartaxo, Rui Pedro, Artur Albarran, Moreno Pinto, José Videira, António Borga (da BBC) e elementos da Voz da América e da Deutsche Welle. O programa teve, no início, co-produção da revista “Flama” e o seu primeiro apresentador (só em Janeiro de 1968) foi Jorge Schnitzer.
O programa era constituído por música, informação, reportagens e entrevistas. Se no inicio o programa era uma espécie de revista “Flama” em formato radiofónico, foi, aos poucos, especializando-se em questões políticas e sociais, o que provocou algum mal-estar no poder vigente. Diziam-se coisas e passavam-se músicas incómodas para o regime totalitário português. Em directo, os artistas da “Canção Nova” interpretavam as suas composições. Fausto, Adriano Correia de Oliveira e Manuel Freire foram alguns dos que apresentaram os seus trabalhos no programa. No “Página Um” passaram ainda discos de José Mário Branco, Sérgio Godinho e Zeca Afonso (comemoram-se, hoje, vinte anos da sua morte). Ou seja, autores que estavam debaixo de olho (neste caso, ouvido) da censura.
Nas palavras de Matos Maia, na sua magnífica obra Telefonia, «Naqueles tempos a rádio mexia com o sistema, era saudavelmente incómoda e os programas não se limitavam a ser gira-discos». Não podia concordar mais com estas palavras.
Para este texto foram consultadas as seguintes fontes:
MATOS, Maia - Telefonia. Lisboa: Circulo de Leitores, 1995. ISBN 972-42-1133-9
BRAVO, Manuel – História da Rádio em Datas (1819-1997). Disponível em http://pagina.vizzavi.pt/~nc22723a/radio.htm

1 comentário:

Vítor Soares disse...

Caro Jorge,

Boa pesquisa que redime a afirmação do post anterior onde o "Página 1" era classificado como um programa de informação. De resto, não se pode dizer que houvesse na rádio portuguesa, antes do 25 de Abril, programas de informação tal como hoje os concebemos. E já agora uma achega para a história do "Página 1". O indicativo do programa chamava-se "Page One" e era tocado por um grupo formado no Porto, em finais de 1967, chamado "Pop Five Music Incorporated". Por lá passaram nomes como os de Tó Zé Brito, Paulo Godinho (irmão de Sérgio Godinho) e Miguel Graça Moura (o mesmo que viria a dirigir mais tarde a Orquestra Metropolitana de Lisboa).

Vitor Soares
http://infoinclusoes.blogspot.com