«aquela magia da música que vem do éter, é um hábito que se está extinguir (…) a rádio enquanto escuta caseira é um hábito que faliu e que nos fugiu, e não há maneira de voltar». António Sérgio in "Suplemento DN" de 08 de Julho de 2005

quinta-feira, 1 de março de 2007

A rádio na escola

O Colégio dos Órfãos do Porto (onde fui aluno no ensino primário) tomou a iniciativa de “apresentar” a rádio aos alunos. O professor Paulo Cardoso foi o impulsionador desta acção, tendo sido feita uma exposição de receptores radiofónicos antigos e aparelhos de reprodução e gravação áudio. Paulo Cardoso teve a gentileza de me convidar para falar sobre rádio aos jovens.
O tempo foi curto para explicar a evolução técnica e social da radiodifusão, pelo que ficaram muitas questões por fazer. No entanto, alguns alunos do 9.º B colocaram-me questões via correio electrónico. Acedi a responder neste blogue, porque para além das minhas respostas serão, certamente, interessantes os comentários que as poderão complementar. Fica aqui o desafio aos meus leitores.
A primeira questão é da Ana Catarina: “É necessário algum tipo de formação específica para ser operador áudio?”
Sim, é. Um operador tem de ter bons conhecimentos do equipamento com que trabalha e conhecimentos de som (produção, propagação e recepção de vibrações acústicas), e noções – umas mais aprofundadas que outras - de música, electrónica, informática e, cada vez mais, de jornalismo.
O Gabriel perguntou: “Perante um imprevisto, durante uma emissão de rádio, o que fazer?”
É uma pergunta de difícil resposta, pois cada caso é um caso e normalmente não acontecem duas situações idênticas. Também é verdade que o imprevisto é o “pão-nosso de cada dia” nas emissões radiofónicas. Estar em directo implica que se trabalhe com muitas variáveis nem sempre controláveis por apresentadores ou operadores. Quem está perante um microfone ou em frente a uma mesa de controlo tem de actuar consoante as circunstâncias, para que as falhas passem, dentro do possível, despercebidas ao ouvinte.
Diogo Miguel: “O que é necessário para que haja uma emissão de rádio, quer em termos materiais, quer em termos humanos?”
Hoje em dia, as emissoras laboram com pouca gente, já que os computadores têm tomado o lugar dos apresentadores. Mas uma verdadeira estação emissora de radiodifusão sonora tem de ter, em termos humanos, apresentadores (também chamados de locutores ou animadores), Jornalistas (editores e repórteres), pessoal técnico (operadores de som, técnicos de emissores, de electrónica, sonorizadores) e pessoal administrativo e um departamento de marketing (a rádio privada vive exclusivamente de apoio publicitário). Em termos materiais, são necessários microfones, máquinas de registo áudio, computadores, cabos áudio, leitores de compact Disc, mesas de mistura, auscultadores, emissores, etc.
Tiago Pinto: “A tecnologia da rádio tem evoluído lenta ou rapidamente nos últimos 10 anos?”
A rádio tem evoluído ao ritmo da tecnologia, pois a rádio é filha da tecnologia. Sempre que há avanços tecnológicos (alguns exemplos: do Disco analógico para o CD, da cassete para o MD, das máquinas de fita magnética para os computadores, etc.) a rádio tem de acompanhar essa evolução. Os últimos dez anos foram, talvez, os que maiores alterações trouxeram à rádio, porque passou-se de tecnologia analógica, para digital.
João Paulo: “Que profissões podemos encontrar dentro de uma estação de rádio?”
Já referi algumas noutra resposta, mas são bastantes e algumas nem sequer são ligadas directamente à emissão: técnicos de som, de electrónica, animadores, escriturários, jornalistas, vendedores de publicidade, telefonistas, motoristas, pessoal de higiene e segurança no trabalho, etc.
Ana Rita: “De que modo é que as rádios têm acompanhado a evolução dos gostos dos ouvintes?”
Nem sempre tem acontecido e, até há bem pouco tempo, era a rádio que guiava o gosto dos ouvintes em termos musicais, pois a música era apresentada em primeira mão nas rádios. A televisão, lentamente, foi adquirindo alguma desta preponderância, sendo que a Internet começa a tomar o lugar dos media tradicionais. Ainda assim, algumas emissoras compram estudos de mercado a empresas especializadas (como a Marktest), outras vão copiando o que se faz lá por fora e adaptam ao mercado português e outras melhoram o que algumas já fazem.
Micail: “Num cenário hipotético de guerra, como sobreviveria uma estação de rádio?”
A rádio já passou, infelizmente, por muitos conflitos. Mas sobreviveu. Em tempo de guerra a rádio passa por dificuldades como todos os ramos industriais e como toda a gente, mas a própria rádio pode ser uma arma na guerra. “A pena é mais forte que a espada” e a utilização da rádio para conduzir as massas através da persuasão – a psicagogia – é uma das muitas formas em que se desenrola um conflito. A rádio é usada como forma de informação e desinformação. Normalmente os governos de países em conflito usam a censura como forma de controlo das emissões. Muitas estações têm de encerrar devido a isto, subsistindo as que são apoiadas pelos governos.
André: “Que medidas a TSF toma para combater a concorrência das outras rádios?”
Essa é uma pergunta que tem de ser o director da TSF a responder, já que é ele o responsável pela emissora. Mas, de uma forma geral, as emissoras tentam fazer melhor que as outras, tentando acompanhar o gosto do maior número possível de ouvintes.
Espero que ter correspondido às expectativas e respondido de forma a esclarecer as dúvidas destes jovens. Mas, já agora, se alguém quiser complementar estas respostas, os alunos, e eu, ficamos agradecidos.

3 comentários:

Anónimo disse...

Muito obrigado! Algumas perguntas davam "pano para mangas", como se costuma dizer, mas as respostas são bastante esclarecedoras. Os alunos dos 9ºB vão gostar... :)

Anónimo disse...

Agradeço as respostas, estão esclarecedoras...

Abraço e continuação
Diogo Miguel

Unknown disse...

Obrigada pela visita ao nosso colégio!!
Na minha opinião foi uma experiência muito enriquecedora...

Alda Cruz