«aquela magia da música que vem do éter, é um hábito que se está extinguir (…) a rádio enquanto escuta caseira é um hábito que faliu e que nos fugiu, e não há maneira de voltar». António Sérgio in "Suplemento DN" de 08 de Julho de 2005

segunda-feira, 26 de março de 2007

Nunca pensei que chegássemos a isto

Não acompanhei o programa “Grandes Portugueses”, da RTP, mas o resultado final deixa-me perplexo. Nunca pensei que António Oliveira Salazar fosse o escolhido. Não vi o documentário em que se falou de Salazar, mas certamente focaram o regime por ele criado, que permitia que patrões explorassem operários por uns míseros tostões, a polícia politica (PIDE-DGS) que praticava todo o tipo de tortura, as centenas (milhares?) de presos políticos que existiram, o número indeterminado de pessoas que eram contra o regime e que foram mortas, o assassínio de Humberto Delgado, a censura à imprensa. A guerra em África...
Resta-me como consolação que apenas um punhado de pessoas (as dez figuras tiveram, no total, 159.245 votos e o 1.º classificado apenas 41% destes votos) votou no ditador, certamente porque, pelo nome, acharam que votavam no cãozito (de seu nome Salazar) que entrou num pequeno filme televisivo (em que um jovem negro faz de Skinhead) ou então esqueceram-se que, precisamente, porque o regime instaurado por Salazar em Portugal já não existe, é que puderam votar livremente em quem queriam.
De qualquer forma, é para isto que serve o dinheiro que dou, de dois em dois meses, na factura da electricidade, para o serviço público de radiodifusão. Se um dia Adolf Hilter vier a ser considerado um grande europeu, já não me vou espantar...

2 comentários:

Pedro Javier Mazzoni disse...

Mas será que já ninguém neste país entende de estatística?
Será que em vez de debater quem é para os portugueses o maior português, ninguém fala em amostras auto seleccionadas?
É que este método usado neste caso, nada de científico tem...

Anónimo disse...

Na minha opinião, as pessoas escolheram Salazar como um voto de protesto contra a actual situação do país: o desemprego, a exclusão social, a pobreza, as dificuldades económicas, as maiores dificuldades no acesso a serviços essenciais, como a saúde ou educação... As pessoas não votaram directamente na figura do ditador que "reinou" 40 anos em Portugal, mas votaram como forma de criticar o actual contexto sócio-económico de Portugal.

É evidente que ninguém gosta da guerra colonial, da PIDE ou do assassínio do General Humberto Delgado, mas votar em Salazar foi um "balde de água fria" para os actuais políticos que se preocupam apenas em governarem-se a eles e não governar o País. Com isto não quero transformar este post do blog num debate de âmbito político, mas é necessário ver que este tipo de votações pode ser o espelho da sociedade portuguesa.

É evidente que ninguém pode dizer que o país anda bem... Mas a votação no Salazar transparece o descontentamento da opinião pública em relação ao (des)Governo de Portugal...