«aquela magia da música que vem do éter, é um hábito que se está extinguir (…) a rádio enquanto escuta caseira é um hábito que faliu e que nos fugiu, e não há maneira de voltar». António Sérgio in "Suplemento DN" de 08 de Julho de 2005

sábado, 30 de junho de 2007

Os dias do fim da telefonia – III

A realidade radiofónica difere de país para país. Não se pode comparar sequer a realidade espanhola com a portuguesa. Torna-se, portanto, bastante difícil fazer previsões a longo prazo. Quanto tempo a rádio ainda vai existir é uma incógnita, mas, provavelmente, a próxima década definirá o rumo.
No caso português, são notórios os problemas que as estações atravessam. As dificuldades económicas são uma constante de qualquer emissora particular, e quem sofre com isto é a qualidade das emissões. Não existindo capacidade financeira para suportar uma equipa qualificada (animadores, jornalistas, técnicos, etc.), recorre-se a pessoal sem qualificação profissional. Aliás, a formação na área da radiodifusão é escassa, sendo inexistente no interior do país.
A esmagadora maioria das emissões de radiodifusão sonora é em Frequência Modulada. Existem algumas em Amplitude Modulada (em Onda Média), mas o desinvestimento nesta forma de emissão foi notório a partir da década de 1980, com o aparecimento das emissoras piratas. A legalização, no final dessa década, não contemplou estações de Amplitude Modulada. Desde a década de 1950 que nenhum alvará de radiodifusão em Amplitude Modulada para novas estações foi emitido. As que o possuíam foram perdendo o interesse – inclusive a RDP. As emissoras mais pequenas que possuíam alvarás em AM e FM, foram deixando de fazer programação diferenciada para as duas antenas e, quando os emissores avariaram, deixaram mesmo de emitir, o que valeu a algumas um processo de cassação de alvará, por parte das entidades responsáveis.
A rádio portuguesa teve “mais olhos que barriga” e, após a legalização, todas as emissoras locais passaram a copiar os modelos da Antena 1, Renascença e Comercial, terminando, assim, o período de diversificação que se tinha registado ao longo da década de 1980. Apenas a TSF - Rádio Jornal se apresentou de uma forma diferente.
Grande parte das emissoras locais não percebeu o seu papel afastando-se da sua função de trabalhar para a comunidade onde estava inserida, acabando por se tornarem retransmissores das estações da capital.

(continua)

terça-feira, 26 de junho de 2007

Os dias do fim da telefonia – II

É a segunda vez que a rádio tem um fim anunciado. A primeira foi há cerca de meio século, quando a televisão se popularizou. Só que afinal a rádio não morreu. Adaptou-se… e bem! Mas hoje os desafios são maiores e a rádio não tem estado à altura. Pelo menos em Portugal.
A questão é que a rádio, de uma forma geral, tardou a responder aos desafios do digital e ainda há muita confusão no éter. O Digital Audio Broadcasting (DAB) tem problemas em se impor e já evoluiu, numa tentativa de recuperar terreno perdido, para o Digital Multimedia Broadcasting (DMB). O Digital Radio Mondiale (DRM) começa, aos poucos, a ganhar terreno, já que oferece uma qualidade sonora superior à da Amplitude Modulada (AM). E, para criar mais confusão, os Estados Unidos apostaram no sistema HD Radio - que já se chamou IBOC - e os japoneses no ISBD-T, que, tal como o DAB, está debaixo das normas Eureka 147, mas é diferente deste. Ou seja não há uniformização das emissões a nível mundial, como acontece nas emissões analógicas.
Em Portugal, a rádio digital deixa muito a desejar. Além das emissoras da Rádio e Televisão de Portugal (Antena 1, 2 e 3), que emitem em DAB, mas que se limitam a retransmitir a programação da Frequência Modulada (FM), mais nenhuma estação portuguesa emite digitalmente. Há, no entanto, em território português emissões da Deutsche Welle (DW) em DRM.
A acrescentar a esta confusão, há ainda o preço dos receptores de rádio digital, que são muito elevados para o português médio. Mesmo que a oferta radiofónica digital fosse elevada, as audiências seriam fracas, devido à escassez de receptores.
E há a rádio pela Internet – as Webradios. Mas estas emissoras ainda estão limitadas na recepção, pois não podem, ainda, ser captadas por auto-radios e é no carro que mais se escuta rádio. E acresce a isto o facto de as emissoras na Internet serem cada vez mais condicionadas pela legislação. Hoje, nos Estados Unidos é um “Dia do Silêncio”, como protesto contra as medidas restritivas impostas às emissoras online.
Claro que, no domínio digital, podemos acrescentar os Leitores de Áudio Digital (LAD), que são cada vez mais baratos e a música, em mp3 ou outro áudio comprimido similar, é simples de arranjar, existindo na Internet milhares de sítios onde ela é disponibilizada de forma gratuita, mesmo que isso seja ilegal.
As emissões digitais obrigam a investimentos em novos emissores e muitas estações não têm disponibilidade financeira para tal. Se o "Switch off" analógico decretado pelo parlamento europeu for avante, muitas emissoras terminarão de vez as emissões.

(Continua)

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Os dias do fim da telefonia – I

A propósito da reportagem do jornal “Diário de Notícias” sobre um seminário que decorreu na Sociedade Portuguesa de Autores sobre a sobrevivência da rádio, há algumas considerações a fazer, que serão colocadas em vários textos, dada a extensão e complexidade.
Sobre o texto "A rádio vai morrer muito em breve", já escreveram os blogues O Segundo Choque (este blogue estuda o assunto de uma forma aprofundada), NetFM e Rádio e Jornalismo.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Quatro anos de “A Rádio em Portugal”

Passam hoje quatro anos sobre o primeiro texto neste blogue, publicado ainda na plataforma weblogger.com.br. Nestes quatro anos, o panorama radiofónico português mudou, mas isso não é de estranhar. Vivemos dias de alteração constante, no entanto, uma mudança que penso ser significativa foi o facto de a rádio ter perdido espaço nos periódicos portugueses. As páginas de media dos jornais são, na sua quase totalidade, dedicadas à televisão, em especial às telenovelas. Quando comecei a minha página da história da rádio portuguesa, recorri a revistas e periódicos de finais do século XIX e da primeira metade do século XX. Há, nos jornais da época, muita informação que permite, pelo menos, ter uma imagem do que era a radiodifusão em Portugal, nos seus primórdios. Daqui a meio século, se algum investigador quiser saber como eram os media na primeira metade do século XXI, vai ter alguma dificuldade em encontrar informações detalhadas sobre a rádio. Pelo menos existem blogues e páginas na Internet sobre o meio, que, de alguma forma, vão colmatando a lacuna deixada pelos jornais.
Das dezenas de revistas que existiam em Portugal sobre a rádio, apenas sobra a “QSP – Revista de Rádio e Comunicações”, no entanto esta publicação é mais virada para o radioamadorismo e é difícil de encontrar nas bancas. Um ponto muito positivo, nestes quatro anos, foi o facto de a literatura referente à rádio ter sido substancialmente aumentada.
Ao longo destes anos este espaço permitiu-me adquirir conhecimentos e criar amizades. A todos os que visitam este espaço, o meu agradecimento.

A ler no DN de hoje: O fim da rádio

O "Diário de Notícias" apresenta uma reportagem sobre um seminário que decorreu na Sociedade Portuguesa de Autores sobre a sobrevivência da rádio.
"A rádio vai morrer muito em breve"! Esta foi a sentença proferida durante o seminário e parece ser consensual entre os palestrantes.
Nos próximos dias voltarei a este assunto, com uma análise mais profunda.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Ainda sobre "A música portuguesa na NPR"

Álvaro Costa, referido num comentário no texto “A música portuguesa na NPR”, de 7 de Maio, por dificuldades em inserir comentários, respondeu por e-mail, ao último comentário lá colocado:
«Carlos Paredes em inglês? Rodrigo Leão em inglês? Mário Barreiros em inglês? Sativa em inglês? Megaphone em inglês? Paulo Gonzo em inglês? Tony Carreira em inglês? Blind Zero em inglês? Sim.
Em colaboração com o Henrique Amaro, elaborei esta lista, sabendo o que ele iria escolher. O tempo do podcast, cerca de 30 m, nunca permitiria uma viagem real, pela diversidade e história da música portuguesa. Por isso, uma escolha que incluía tradição (Carlos Paredes), neo world exportável / Rodrigo Leão, movimentos de nicho como o jazz (Mário Barreiros) o triangulo África, Brasil, Portugal, e em especial a cena reggae do Porto, as variedades modernas, Paulo Gonzo, a musica popular urbana, Tony Carreira, a etnografia como ponto de partida, Megaphone e o rock, Blind Zero. Todas e quaisquer outras opções eram legítimas, mas se escutarem os 2 programas creio que conseguimos dar uma amostra ampla do que realmente se faz por cá, com evidentes " injustiças" pela falta de tempo
Por acaso, sabia que inicialmente o podcast era para ser apenas um? Fui eu que ao ser motorista e guia turístico da comitiva da NPR que os convenci a fazer 2 programas. Por acaso imagina as dezenas de discos que escutaram pela Foz, Boavista, Pasteleira, Lordelo do Ouro, Aldoar, Matosinhos e Leça?
A sua opinião é legítima, mas dizer que escolhi o inglês é muito injusto. Apenas uma canção que se chama Heroes e que representa uma fatia da produção nacional nessa lingua. De 8 clips sonoros, um ser cantado em inglês, ultrapassa todas as quotas possíveis e imaginárias.
Obrigado por escutarem e felicidades para o blog que visito regularmente
Álvaro Costa».

terça-feira, 19 de junho de 2007

Algo vai mal na informação radiofónica

Há em Portugal quatro emissoras com uma forte componente informativa – TSF, Antena1, Renascença e RCP. Mas, segundo o Blogouve-se, parece que todas passaram ao lado de uma notícia, apenas tendo desenvolvido o assunto 24 horas depois.
Ou todas as estações andam distraídas ou então anda tudo a ver (ouvir) o que as outras fazem, indo depois atrás.

sábado, 16 de junho de 2007

Uma questão de um leitor

Está nos comentários do texto anterior: «porque é que a Antena 2 tem programas de análise de política, como um com o Vicente Jorge Silva, a Inês Pedrosa, entre outros. Esse serviço não existe já na Antena1?Já agora, petição para a Antena 3 também ter um».
Dado o cariz temático da Antena 2, e sendo a Antena 1 uma estação vocacionada para a informação ( e pertenças do mesmo grupo), a pergunta é pertinente.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Mais um convívio... nos 26 anos do Swing Club


É no próximo sábado à noite a sexta festa do blogue Queridos Anos Oitenta ( o tal que dava um bom programa de rádio). Em parceria com o Swing Club, esta é mais uma noite para recordar a década de 1980. No entanto, esta festa coincide com o 26.º aniversário da discoteca Swing - considerada a raínha da noite do Porto.
Talvez - como se lê no QA80s - se escute o "Parabéns a Você" do António Sala - provávelmente um dos animadores radiofónicos mais queridos dos anos oitenta...

terça-feira, 12 de junho de 2007

Rádios Universitárias em debate na Maia

As rádios universitárias vão a debate, no próximo dia 15 de Junho, a partir das 14h30, no Auditório Venepor, na cidade da Maia. Neste evento, denominado «Universidades.fm – Conferência Nacional de Rádios Universitárias» serão abordadas questões como «Qual a actual situação das rádios universitárias em Portugal?» e «Qual a importância destas para o meio onde se inserem?».
«A conferência terá moderação de Daniel Catalão, jornalista da RTP, e tem como público-alvo os alunos e professores das diversas escolas e universidades participantes. Paralelamente à conferência, estará patente no mesmo espaço, uma pequena Mostra, com a presença de algumas instituições ligadas ao meio, contando ainda com a importante presença da Fundação da Juventude.
O debate de ideias contará com a presença de um relevante painel de oradores, entre os quais, Isidro Lisboa, animador da Rádio Nova, Francisco José Oliveira, vice-presidente da Associação Portuguesa de Radiodifusão, Luís Mendonça, director da Rádio Universidade Marão e Pedro Alexandre Reis, professor de Comunicação Digital na Universidade Fernando Pessoa. Num debate que se quer o mais interactivo possível com a plateia, pretende-se auscultar a opinião de quem pensa, faz e vive este conceito. E porque a participação de todos conta, torna-se importante salientar a presença de diversas delegações de Rádios Universitárias do país, assim como, duas tunas universitárias que prometem encerrar com chave de ouro este evento». A entrada é livre.
Esta conferência é realizada no âmbito da Prova de Aptidão Profissional de Marco Ribeiro, aluno finalista do Curso Técnico de Comunicação/Marketing, Relações Públicas e Publicidade da Escola Profissional de Comércio Externo.

domingo, 10 de junho de 2007

Uma iniciativa interessante

A Rádio Asas da Beira, de Tábua, (distrito de Coimbra), está à procura de parceiros para projectos radiofónicos no resto do país. Pode ler-se no sitio da Asas da beira que «numa lógica de crescimento sustentado e com a clara noção que o panorama radiofónico português, à semelhança de outros sectores da economia, atravessa um período de recessão, quer propor às rádios interessadas o estabelecimento de parcerias, quer em termos de produção de conteúdos, quer em termos de implantação comercial nas zonas onde as rádios locais estão inseridas».
Esta é uma iniciativa interessante, até porque se trata de uma emissora de um pequeno concelho do interior. Mas o que é surpreendente é o facto de a Asas da beira se comprometer a «modernizar tecnicamente as Estações ao nível de sistema de emissão, sistemas informáticos e sistemas de automação».
Propostas destas chegam, normalmente, de estações centralizadas em Lisboa e pertencentes a grupos de media, e não de pequenas emissoras do interior.

terça-feira, 5 de junho de 2007

«Esculpindo a Música…» - Encontros com a arte

A Casa-Museu Teixeira Lopes vai homenagear a violoncelista portuense Guilhermina Suggia - uma das maiores violoncelistas de sempre - dia 15 de Junho, pelas 21h30.
A Casa-Museu Teixeira Lopes é um espaço de sonho íntimo com a arte, a música e a literatura. Pela Casa do Mestre passaram grandes e famosos artistas plásticos, músicos e escritores, que agora oferece aos visitantes os encontros temáticos «Esculpindo a Música…» - um ponto de encontro, de diálogo e de conhecimento com personalidades ilustres da música portuguesa que continuamente nos presenteiam com momentos musicais intemporais, singulares e únicos na Casa-Museu.
Guilhermina Suggia é a personalidade a recordar e a homenagear neste primeiro encontro… Teixeira Lopes foi seu padrinho de casamento e grande amigo… Uma violoncelista virtuosa e incontornável! …
Jorge Rodrigues, músico e radialista que se consagrou no seu programa Ritornello, na Antena 2, anima o diálogo, sobre a vida e actividade musical de Guilhermina Suggia, com a Senhora D. Madalena Sá e Costa, violoncelista, professora de violoncelo (ex-aluna de Suggia), o escritor Mário Cláudio, autor do livro “Guilhermina” e Delfim Sousa, Director da Casa-Museu Teixeira Lopes.
A conversa é ilustrada com trechos musicais de violoncelo tocados por Paulo Gaio Lima, ex-aluno da Profa. Madalena Sá e Costa e actual violoncelo-solo da Orquestra Metropolitana de Lisboa, bem como professor da Academia Nacional Superior de Orquestra.

segunda-feira, 4 de junho de 2007

A rádio para a infância

No dia 1 de Junho comemorou-se (comemora-se) o Dia Mundial da Criança. A TSF - Rádio Notícias celebrou o dia colocando uma jovem a apresentar os noticiários das 08h e 09h, juntamente com o jornalista Pedro Pinheiro. Diga-se, em abono da verdade, que o desempenho foi excelente, já que os noticiários são editados nos estúdios do Porto, enquanto a jovem estava nos estúdios de Lisboa. A Rádio Renascença assinalou o dia passando, nos noticiários, pequenos registos sonoros com mensagens de crianças. Não foi possível perceber se outras emissoras (nacionais e locais) tiveram alguma iniciativa para marcar a efeméride.
Ainda existem emissoras locais – embora sejam poucas - que têm programas para os mais novos, mas é certo que as emissões para crianças já são uma coisa do passado nas estações de cobertura nacional. É um facto que com a quantidade de programas infantis nas televisões e com vários canais por cabo exclusivamente para crianças, a rádio foi esquecendo os mais novos. As emissões infantis eram escutadas exclusivamente em casa, o local onde hoje existe um ou mais televisores, estando um à disposição das crianças. E, se não houver emissões infantis na TV, há os DVDs com as séries, os filmes e, também, o computador ou a consola de jogos. Muita concorrência de estímulo visual, sonoro (surround 5.1) e interactivo com que a rádio não pode concorrer em pé de igualdade.
Houve, no entanto, épocas em que as estações de radiodifusão tinham várias horas semanais dedicadas aos mais novos. Basta um olhar no livro As Vozes da Rádio, de Rogério Santos, ou no Telefonia, de Matos Maia, para se perceber a importância destas emissões. A imagem que está no topo do blogue Indústrias Culturais é de uma protagonista desses programas infantis – Maria Arlette Rodrigues Moreira, a moreninha da Rádio Peninsular, em 1936.
Fica a memória.